O assunto do momento é craque da seleção brasileira, Neymar, ter declarado apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Nesta quinta-feira (29), o camisa 10 do Brasil apareceu em um vídeo em rede social dançando uma música jingle da campanha à reeleição do atual presidente.
Mas fique tranquilo, essa matéria não vai se debruçar em questões políticas ou partidárias. Seria raso (e chato) demais. O propósito aqui é buscar compreender e fazer observações sobre as reações comportamentais relacionadas ao acontecido.
É claro que a atitude de Neymar provocou reações distintas. Houve quem muito o aplaudisse, e quem muito o criticasse. Absolutamente natural. Porém, existe alguns pontos de atenção. Muito do tom das críticas dirigidas ao Neymar é totalmente contraditório ao que outrora era dito.
Possivelmente você já deve ter ouvido frases do tipo “jogador tem que se posicionar“, ressaltando que a influência de atletas famosos como Neymar deve ser usada pra discutir determinados assuntos, entre eles a política.
Aviso de antemão que discordo. Decidir usar sua voz para discutir ou não questões políticas ou algo do tipo é antes de tudo uma decisão pessoal do jogador. Não deve ser uma imposição de terceiros. O foco principal de um atleta deve ser a sua prática esportiva, não o de fazer ás vezes de formador de opinião. Se quiser militar em favor disso ou daquilo, é direito dele, se não, paciência.
E veja só, que muitos daqueles que cobravam posicionamento de Neymar agora o criticam duramente. Ninguém é obrigado a concordar com o mesmo, mas soa por contraditório partindo de pessoas que tanto valorizam que atletas se posicionem politicamente. É como diz aquela frase: ”Você é livre…para concordar comigo“. O interesse nunca foi pelo debate, mas sim pela adesão.
Outra coisa interessante é ver o quanto o brasileiro valoriza a opinião política de pessoas que a princípio não demonstram conhecimento sobre tal assunto. Afinal, fama não é atestado de sabedoria. Claro que esse ou aquele cantor, ator ou atleta pode sim ter conhecimento político, mas como já foi dito, figuras como essas andam longe (ou deveriam andar) de serem referências nesses assuntos.
É preocupante ver um público muitas vezes adulto, do qual se espera um certo nível de maturidade, se guiando politicamente por famoso e digital influencer. Independente do espectro, se as suas opiniões políticas são formadas somente com base em tweets de famosos, em detrimento de livros e artigos de cientistas políticos, filósofos e intelectuais honestos e inteligentes, algo de errado não está certo.
Mais uma questão pertinente é o fato de que muitas reações, tanto positivas quanto negativas ao Neymar mostram o quanto ainda precisamos crescer politicamente. A discordância faz parte do ambiente democrático, mas será preciso tanto hate gratuito só por que uma pessoa declarou voto pro candidato rival ao seu? Onde está a tolerância e empatia que sai da boca de tantos? Não duvide que irá aparecer quem torça contra Neymar e até mesmo contra a seleção na Copa do Mundo. Só pela opinião política do nosso craque. Perceba o quanto isso tudo é desproporcional e sobretudo imaturo.
“Mas o Neymar é um tremendo de um fascista, reacionário!” “Neymar tá certo em se posicionar contra essa esquerda comunista“. Você sabe definir Fascismo, Reacionarismo, Comunismo e afins? Ou só usa esses termos como meras ofensas à quem discorda politicamente de você? São termos sérios e complexos demais para serem tão banalizados. Defender ou repudiar algo pressupõe que se tenha certo nível de conhecimento sobre o mesmo. Caso contrário, você se torna apenas mais uma massa de manobra enquanto acredita ter “senso crítico”.
Desde que resolvi tentar compreender melhor as principais ideias e conceitos políticos, uma das coisas que pude perceber é que a política não é o primeiro plano de mudança numa sociedade.
Onde quero chegar? Não basta achar que o voto fará esse país virar um paraíso… ou um inferno. Sinto informar que, o buraco é bem mais embaixo. Não há soluções simples para problemas complexos.
A ferramenta efetiva de transformação de uma sociedade começa no nível cultural, e consequentemente, comportamental. A política apenas refletirá esses aspectos. Por isso tão importante quanto ter convicção de quem é seu candidato, é saber como construir sua cosmovisão, como lidar com opiniões contraditórias, refutar ideias sem atacar pessoas. Ou seja, lidar de forma madura com a política. Essas são algumas mudanças pontuais e necessárias pra se construir uma nação melhor. Mudanças essas que começam na mente, e não na urna.