As nomeclaturas no meio do futebol nos ajudam a entender melhor o papel de cada jogador e sua função no campo. Nem tudo que usávamos nos anos 50, fazemos uso nos dias de hoje. Assim como o futebol, as nomeclaturas mudam. O falso 9 existe há quase 70 anos, e não é todo mundo que sabe disso. Muitos pensam que surgiu com Messi, naquele lendário Barcelona comandado por Pep Guardiola, outros pensam na seleção brasileira de 70, com Tostão, que também fazia essa função no Cruzeiro da época. Ambos os lados estão enganados.
Talvez, o exemplo mais clássico que temos seja o Barcelona de Guardiola, que ganhou tudo em solo europeu e marcou a história. Aquela equipe se baseou muito na Holanda de 74, com Cruyff no comando de ataque, na mesma estrutura tática ( 4-3-3 ) e com intensas movimentações dos homens de frente. Antes disso, vemos o Santos de 1960, que tinha Coutinho fazendo essa função. O *primeiro exemplo palpável que temos é ainda mais antigo. Se trata de Hidegkuti, atacante húngaro que foi posicionado desta maneira no chamado Jogo do Século, às vésperas da Copa do Mundo de 1954. A partida amistosa foi disputada no histórico estádio de Wembley entre Inglaterra e Hungria, que contava com Puskas e Kocsis completando o trio de ataque. Os ingleses nunca tinham visto algo parecido, o sistema defensivo não soube o que fazer e nem como marcar tais movimentações e desmarques. Resultado: 6×3 para os húngaros, uma goleada fenomenal que marcou época. Meses depois, uma revanche, e mais uma goleada da Hungria: 7×1.
Nem todo centroavante que se movimenta, é um falso 9, são coisas distintas. O falso 9 é quem atua, na teoria, como centroavante da equipe, mas que constantemente sai da referência, busca o jogo. Em certos momentos, quem faz essa função é um meia improvisado, alguém com familiaridade na função, com bom passe, boa finalização e muito inteligente taticamente. Um exemplo claro disto é Roberto Firmino, atacante do Liverpool, que em vários momento de sua carreira já jogou como meia atacante. Muito inteligente taticamente, com bom passe e boa finalização, é o exemplo perfeito no futebol de hoje. Muita gente pensa que Benzema é um falso 9, mas não é exatamente assim. Ele se encaixa mais entre os “9” de movimentação do que especificamente um falso 9, pois mesmo que ele saia da referência, ele não busca lá atrás para si, para armar, para conduzir uma jogada, apesar de ser muito bom abrindo espaços para a infiltração de outros jogadores. Normalmente, ele fica entre as linhas, mas sempre na chamada “área do centroavante”, perto da última linha de defesa. Ele consegue fazer essa função, assim como várias outras, mas não majoritaritareamente.
Um ponto importatante a se observar na hora de identificar um falso centroavante, é que dificilmente ele irá criar profundidade na defesa adversária, apenas em exceções predeterminadas. É incomum, também, ele estar esperando cruzamentos, provavelmente ele estará chegando por trás, na entrada da área. No Liverpool, podemos perceber que Mané e Salah ganham muito destaque por seus gols se mexendo e pisando muito na área, mas muitos esquecem que essas movimentações só são possíveis de serem executadas pois Firmino abre esse espaço, fazendo valer seu papel como falso 9.
Aos poucos essa função vai cada vez mais se popularizando, ainda mais com o sucesso estrondoso nas últimas temporadas da equipe de Jurgen Klopp. Por fim, com o falso 9, você tira a referência do time. Não há ninguém centralizado dando profundidade ao ataque. O jogo fica puxado nas entrelinhas, tirando os zagueiros do miolo da zaga, deixando eles sem referência de marcação. Assim, abre espaço pra movimentos em diagonal dos pontas, meias e até volantes. No futebol de hoje, um centroavante de elite precisa saber mesclar características. Ser a referêcia, saber se movimentar, saber buscar o jogo quando necessário, e principalmente saber o momento de executar tais funções. O futebol está em constante evolução e está sempre indo para frente, mesmo que o falso 9 vá para trás.
Muito se fala que no Corinthians inglês possa ter surgido a figura do falso 9, mas o primeiro exemplo claro e evidente, vem de Hidegkuti e os húngaros.