Perdoa a gente, Barbosa.

Imagine ser crucificado pelo resto da vida por ter cometido um (e apenas um) erro esportivo. Barbosa foi o maior goleiro da história do Vasco da Gama e não à toa: Era o grande guardião do time que ficou conhecido como Expresso da Vitória e colecionou canecos. De 1942, quando sua carreira começou, até pendurar as preciosas luvas em 1962, o goleiro colecionou gigantes defesas, o que o fez ficar conhecido como Homem de Borracha pela sua elasticidade absurda, mas um deslize o deixou marcado por muito tempo como um grande vilão nacional. Hoje, a história é contada de outro jeito.

É importante contextualizar: Barbosa era o goleiro titular da seleção brasileira no dia 16 de julho de 1950. Naquele dia, Brasil e Uruguai disputaram a maior partida do futebol: a final da Copa do Mundo. Mas aquele dia tinha um gosto especial para os brasileiros, pois a canarinho ainda não tinha sido campeã do mundo e aquela competição foi realizada justamente no país.

Cento e noventa e nove mil, oitocentos e cinquenta e quatro torcedores estavam no Maracanã, sendo a maioria esmagadora formada por brasileiros. O otimismo tomava conta da nação.

O jogo, duro para ambas as equipes sul-americanas, estava empatado em 1×1 até os 34 minutos do segundo tempo, quando o atacante uruguaio Ghiggia finalizou e o personagem principal deste texto, o Barbosa, sofreu o gol de desempate. Era o golpe definitivo da “tragédia brasileira”, que ficou famosa mundo afora como Maracanazo.

A vida de Barbosa mudaria ali e ele sofreria com a culpa quase-eterna pelo que, até tempos atrás (mais especificamente, até um dia de julho de 2014 no Mineirão) era o maior vexame do futebol brasileiro. Para se ter uma noção da condenação, é conhecida a história de quando, anos depois daquela final, uma senhora, acompanhada de seu filho, ao encontrar o goleiro, apontou-o e bradou à criança: “Olha, meu filho, esse é o homem que fez o Brasil inteiro chorar!”.

Moacyr Barbosa Nascimento faleceu em abril de 2000 e, conviveu até o fim da vida com esse sentimento e, de acordo com ele mesmo, se sentia como um condenado.

Hoje, o sentimento dos torcedores brasileiros quanto ao ex-goleiro se inverteu: Culpado se sente quem o julgou. Um fato importante para isso, inegavelmente, foi o 7 a 1. O Maracanazo deixava de ser a maior vergonha do futebol brasileiro. Aquela semifinal contra a Alemanha abriu espaço para um questionamento essencial para fora das quatro linhas: Um jogador merece mesmo ser crucificado pelo resto da vida pessoal por erros esportivos? A resposta racional, inegavelmente, é não e o volante Fernandinho é a prova viva disso. O atleta, que sempre se apresentou em alto nível, falhou nas eliminações da seleção nas Copas de 2014 e 2018 e, ao sofrer críticas pesadas nas redes sociais, foi defendido pela maioria das pessoas de ataques pessoais.

É claro que críticas construtivas aos atletas existem e são benéficas ao rendimento em alguns casos, mas quando a irritação se mistura com o ódio pessoal a um ser humano, o problema está longe de estar no jogador e se vê presente em quem o persegue.

Hoje centenário, de onde estiver, apague todo rancor que recebeu, Homem de Borracha. 

Viva o perdão!

Viva, Barbosa!

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