Maldita seja a nossa cultura do imediatismo.
Aqui, agora, nesse instante. Não, depois, não. Tudo necessita ser precoce, independente das pedras que existam no caminho – internas e externas.
No princípio, nada. Largou a proximidade com a família, no intuito de escrever, na história esverdeada de esperança, seu nome, exigir um lugar ao sol dos campeões. Conseguiu. De cara, encerrou os 21 anos de aprisionamento, expurgando o grito engasgado de 2000; o repetitivo algoz de 2001 e 2018; os fracassos de 2016, 2017 e 2019. Asas que libertaram as dores, trova portuguesa que, em poucos meses, açambarcou o Brasil e a América. Mas, ainda, não sabemos dar o valor necessário.
Nelson Rodrigues dizia que, junto do craque, o torcedor era uma das pessoas mais inteligentes do nosso futebol. Há controvérsias, quanto a essa afirmação do jornalista. A prova disso é, após a derrota no Choque-Rei, surgirem pichações com “Acorda, Abel” e “Bem-vindo, 2021”, nos muros do clube. Evidentemente, trata-se de uma minoria – porém, barulhenta. Aquela que, uniformemente e uniformizada, tenta mandar em tudo e, até mesmo, escalar o time. Vários foram os alvos, nessa temporada. O maior deles, não muito tempo atrás, era o atual camisa 7, Rony. Hoje, o “rustico” é um dos gigantes do plantel, incansável. Logo, confiar a racionalidade aos brutos seria, no mínimo, um ato kamikaze.
A maratona de partidas castigará o elenco e a paciência do comandante, pois, para esse ano, o Palmeiras só contratou apenas um jogador, Danilo Barbosa, que estreou contra o São Paulo. Muito pouco, visando a permanência da competitividade nos torneios mais importantes. A base está dando promissores frutos, todavia, sem a mescla com atletas mais experientes, há um elevado risco de exacerbar a responsabilidade nas costas dos recém-ingressados ao time profissional.
A diretoria, do alto do camarote, vê o teatro pegar fogo, incendiado pela plateia oportunista e estandardizada. Supostos torcedores, andando de mãos dadas com a ingratidão, exigindo a cabeça do líder. O presente repete o passado.
Enquanto isso, a voz de Abel Ferreira ecoa no limbo da inércia administrativa.