Uma breve história tática do futebol português

Portugal tem revelado treinadores de renome nos últimos anos, isso é fato. Isso pois, nunca antes, tantos treinadores portugueses estiveram comandando clubes em ligas de ponta no futebol mundial. Mourinho, Nuno Espírito Santo, André Vilas Boas, Leonardo Jardim, até mesmo, Jorge Jesus e Abel Ferreira na América do Sul.  Poucos países no mundo revelaram tantos outros treinadores de ponta com alto conhecimento como Portugal no século XXI, mais precisamente nos últimos 17 anos.

Para uma geração recheada de técnicos de renome, há um precursor, cujos conceitos são fundamentais para que se possa entender esta safra. Trata-se de Vitor Frade, professor na Universidade do Porto. Frade criou uma metodologia chamada periodização tática que aliava técnica, tática e físico. Tal metodologia é levada à prática e ao estilo de jogo, seja lá qual fosse.

Os conceitos da escola de Frade se tornaram importantes para a transição de treino para o jogo; a bola é parte do treino ao qual é integrado o jogo. Tal metodologia de jogo foi levada à prática por José Mourinho, um de seus grandes expoentes. No Porto de 2004, Mourinho já apresentava uma variação do 4-3-3 para um 4-4-2 em losango. Com isso, Mou buscava reforçar o meio-campo no qual ao ter mais tempo de posse de bola, podia atacar de forma agressiva à última linha e finalizar.

A ligação com a escola húngara e o Benfica de Guttman

A Hungria sempre esteve presente na história do futebol lusitano. No século XX, a escola húngara dominava o futebol na Europa e em Portugal não foi diferente. Já que os 11 primeiros campeonatos portugueses foram todos vencidos por treinadores húngaros. Depois é seguida uma linha mais britânica e posteriormente, uma outra linha mais sul-americana.

A volta da influência húngara chega com Bélla Guttman. O treinador danubiano entra para a história de Portugal vencendo as duas primeiras Champions League do Benfica em 1961 e 62; sendo a segunda contando com o talento do eterno Eusébio. Guttman jogava com muitos atacantes seguindo a tendência da época, porque era muito comum o uso do WM no 3-2-5. Guttman já realizava variações entre o 3-2-5 e o 4-2-4. Isso foi feito principalmente, nas duas finais europeias vencidas pelos Encarnados.

Na final contra o Real Madrid em 1962, o Benfica jogou com Mário Coluna um pouco mais recuado, dando espaço pra os ataques de Eusébio e Águas. No segundo tempo, o Benfica fez uma marcação por zona em Puskas no meio, limitando seu espaço e a partir da tomada da posse da bola, saía rápido para o ataque. E vale lembrar que o Benfica chegou a mais 3 finais na década de 60.

O retorno à Glória com o Porto

Entre as glórias continentais benfiquistas e portistas, passaram-se mais de 20 anos. Só em 1987 que a taça de campeão europeu voltou para a “terrinha”, mas desta vez, para o Norte português, pela primeira vez com o Porto. O técnico Artur Jorge definia o time em um 4-3-3, porém na final contra o Bayern de Munique, na qual os dragões venceram por 2 a 1 de virada, o esquema 4-3-3 foi variado para um 4-4-2.

Este é um ponto paralelo entre o Benfica dos anos 60 e o Porto em 1987: a capacidade que o time tem de olhar para o adversário e se adaptar. Ou seja, o Porto começa a final com um 4-4-2 e depois usa o 4-3-3, com os três meias em linha, proporcionando igualdade numérica na zona central, liberando  os pontas Paulo Futre e Rabah Madjer. Considerado por muitos como o maior jogador argelino de todos os tempos, Madjer se torna uma peça importantíssima. Artur Jorge tira o volante Quim e coloca mais um ponta: o brasileiro Juary, ex-Santos. Contudo, Juary não era um ponta de lança, mas era um jogador rápido e móvel, muito incisivo e que atacava em profundidade. E as alterações táticas surtiram efeito. Madjer marcou o gol de empate de calcanhar e deu a assistência para Juary marcar o gol do título após uma jogada genial.

A construção de um perfil

Por fim, a conexão do futebol português com as escolas que vieram de fora possivelmente ajudaram muito no desenvolvimento de seu cenário. E a originalidade do treinador português está justamente em aproveitar o que há de melhor no futebol, na busca pelo entendimento das escolas de futebol e suas vertentes para desenvolver sua própria metodologia de jogo, sempre se atualizando de acordo com as mudanças e a evolução do futebol nas 4 linhas. O treinador português possui diferentes perfis de figura e de liderança, mas possui conhecimento e busca aprimorá-lo de forma constante. Sendo assim, não importa se é o ex-jogador que aprendeu por experiência própria ou o treinador acadêmico que se desenvolveu na universidade, o treinador lusitano não é pragmático, e tal sede de conhecimento o tem levado a ser um novo referente.

 

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