Vergonha brusca

38 poderia ser apenas o número de rodadas do campeonato mais significativo do país, mas não é. 38 é o número de casos de racismo que foram relatados no futebol brasileiro no ano de 2021 – isso sem a inclusão dos que não foram documentados por receio do silenciamento. Um número que aumenta todos os dias, um número que ofende, entristece, revolta e que, infelizmente, não surpreende. 

O futebol é um espelho da sociedade e é uma pena que estejamos sendo tão mal vistos. Tentar vestir o ódio de opinião não cai bem nem para os mais ignorantes, simplesmente não serve. O Brusque, ao que parece, desconhece a história do esporte nesta terra e qual é a cor das pessoas que a conquistaram, qual é a cor do maior jogador que iniciou sua escrita. Mostra que é mais fácil silenciar do que ouvir e que defende o indefensável.

A intolerância em estado puro

Enquanto houver racismo, não haverá um dia sequer que não seja necessário falar dele, ainda que exista uma falta de caráter imensa por parte de muitos que faz com que a dúvida sempre arrebente do lado que consideram como mais fraco. A impunidade é um luxo que sempre está na estante de alguém que se acha superior ao próximo, todos os privilégios e regalias são o banquete predileto de pessoas assim, que acreditam estar no direito de se alimentar da dor alheia. Uma dor que merece ser curada há tempos. Mas o que esperar de um país que recebe um aval diário para destilar um preconceito que nunca é velado, não é mesmo? O que esperar de quem respira um ar poluído de intolerância?

Uma nota que passou longe de ser de repúdio deve ser repudiada dia após dia. A ilusão de que o clube defende respeitosamente “todos os princípios que regem as relações desportivas e humanas” e que “jamais permitiria qualquer atitude de conotação racista” traz consigo o choque de uma realidade desigual que é tratada como normal por quem, no mesmo parágrafo, diz que “o jogador se envolve nessas situações quase sempre”. 

Quem se cala diante disso corrobora com um discurso que invalida o motivo de uma luta que vem de trás. Uma luta que é passada de pai pra filho, de avô pra neto, e que não acaba (infelizmente) na próxima geração. Isto porque ainda há um outro lado que estigmatiza esta luta como “mimimi”, na tentativa de deslegitima-la; e que deve ser combatido sob qualquer circunstância. 

A coragem

Onde a credibilidade nunca tem vez no lado certo, onde Floyds e Joãos são confundidos sabe-se lá o porquê (ou na verdade sabemos), é preciso coragem para denunciar, para enfrentar, para viver. A justiça deve começar a ser executada severamente para que consigamos provar que essas vidas realmente importam, e para que histórias como essa sejam contadas de uma maneira diferente no futuro . É o que devemos buscar.

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