Newcastle United: até onde vai o sacrifício de seus princípios por dinheiro?

Um dos clubes mais tradicionais do futebol Inglês, o Newcastle United sempre figurou entre os mais conhecido e históricos clubes do mundo. Com lendas como o lendário artilheiro Alan Shearer e palco de incríveis histórias como a de Santiago Munez, personagem principal do filme ‘Gol! – O Sonho Impossível’, o clube tem uma rica história desde a sua fundação, feita por operários

Fundado em 1892, o Newcastle surgiu após a união de outros dois clubes da região, o Newcastle East End e West End Newcastle. Originalmente, o clube foi fundado por operários, com cunho popular, assim como a grande maioria dos clubes ingleses, que passaram a existir como uma forma de resistência ao preconceito da elite contra a população mais pobre na prática do esporte.

Detentor de 4 títulos ingleses, 6 copas da Inglaterra, 1 supercopa da Inglaterra e 4 championships, o Newcastle não levanta um título da elite nacional desde a temporada de 1954/55, quando levantou a Copa da Inglaterra pela última vez. Após isso, o clube colecionou títulos da 2º divisão nacional, sendo o último em 2016/17.

Porém, nos últimos dias, com a compra do clube por um grupo saudita, essa origem do clube e até mesmo seus princípios podem ser ‘esquecidos‘ e ‘violados‘ na jornada pelo retorno ao protagonismo nacional em busca de novos títulos.

Venha entender de onde vem esse dinheiro dos novos donos do Newcastle e toda a problemática envolvida nesse caso.

Os velhos, os novos donos e a torcida do Newcastle

Até o dia de hoje, o Newcastle era um clube muito mal gerido pelo empresário britânico Mike Ashley, que assumiu o clube em 2007, quando comprou a participação de 41,6% de Sir John Hall no Newcastle United. Desde então, o trabalho não foi um dos melhores e o bilionário viveu diversos protestos por parte da torcida fanática e tradicional do clube inglês.

Com esse cenário de insatisfação total da torcida do Newcastle, qualquer um que assumisse o lugar como dono da instituição, causaria um grande alvoroço de felicidade nos torcedores. E assim aconteceu, confira:

A saída? A compra do clube por bilionários árabes.
O clube acabou vendido nessa semana, com permissão da Premier League, para o bilionário e príncipe herdeiro, o saudita Mohamed bin Salman. Sua fortuna vem dos fundos públicos do governo saudita, que domina a Arábia Saudita a algumas décadas, como a família real.
Mas qual a problemática e polêmica a respeito disso?
Vamos lá. A família real saudita é hoje uma dos governos que menos respeita os princípios dos direitos humanos, com ênfase no desrespeito aos direitos de mulheres e crianças.

Com inúmeros desrespeitos contra os direitos humanos e democráticos, o governo saudita sempre foi um ‘percussor’ da intolerância e preconceito. Em 2018, o jornalista saudita, que era oposto ao governo do país, Jamal Khashoggi entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul (Turquia), e não voltou mais a ser visto com vida. Uma câmera registrou sua entrada na legação diplomática e, segundo relato da imprensa turca, existe também uma gravação de áudio que revelaria com toda crueldade que ele foi torturado e assassinado. Segundo o jornal turco Yeni Safak, de linha governista, Khashoggi “teve os dedos da mão cortados” enquanto ainda estava vivo e, finalmente, foi “degolado”, a mando da monarquia saudita.

Mesmo com a impressionante fortuna de US$ 320 bilhões (R$ 2,397 trilhões), pertencente ao fundo saudita que comandará o clube, ainda é válido a mudança de dono apenas pelo dinheiro, em detrimento dos princípios do esporte? Vale tudo pelo famoso ‘Sportwashing’?
A torcida do Newcastle não parece se preocupar muito com o que acontece no país árabe. Em pesquisas feitas pelo jornal Chronical Live, de Newcastle, mostrou que 80% dos mais de 6 mil votantes era favorável à aquisição, alheios ao fato de que a Arábia Saudita é hoje uma dos países que menos respeita os princípios dos direitos humanos, com ênfase no desrespeito aos direitos de mulheres e crianças.

O Newcastle United Blog, por exemplo, publicou um artigo com o título “Mike Ashley não pode matar essa oportunidade para o Newcastle United”.

“Não há escapatória para Mike Ashley agora. Ele não pode recusar essa proposta alegando que os interessados não têm fundos e estão desperdiçando seu tempo. Esse grupo tem dinheiro e quer ajudar o Newcastle a atingir todo seu potencial”, escreveu Neil Harris, que assina o artigo.

O coletivo de torcedores “London Magpie Group” publicou no Twitter um manifesto também favorável à venda.

“Um dos grupos mais ricos da história do futebol fez uma proposta aceitável. Relatórios mostram que as finanças deles estão em ordem (…) Se ele (Ashley) quer realmente vender o clube, como já disse diversas vezes, ele deveria fazê-lo agora, para encerrar de vez essa relação tóxica”, diz o texto.

Como diz Bryan Nelson, também de um blog (Coming Home Newcastle), contrário à venda, “o ódio dos torcedores por Ashley os está cegando”.

“É claro que queremos nos livrar de Mike Ashley, mas a que preço? Como poderemos apreciar o futebol sabendo que no camarote do proprietário estarão abusadores dos direitos humanos? Que matam jornalistas e fazem prisioneiros políticos?”

A venda do Newcastle e a nova era do clube

Bom, se alguns torcedores eram favoráveis ou não a venda, agora não tem mais o que fazer. O clube foi vendido nessa quinta-feira (08) e já começa os planejamentos de um novo elenco para a nova era de ouro do Newcastle.

Com rumores a respeito do provável time, tabloides já identificaram alguns jogadores de ‘world class‘, como o goleiro Keylor Navas (PSG), o meia Phillipe Coutinho (Barcelona), e os atacantes Edinson Cavani (Manchester United) e Gareth Bale (Real Madrid).

Definitivamente, o Newcastle protagonizará o mercado de transferências ao final da temporada, assim como os demais clubes bilionários que se transformaram em potencias após a chegada do dinheiro árabe, como o PSG e o Manchester City.

Porém, o Newcastle está um passo acima dos citados. Como já mencionado, o grupo de investimentos que tomará conta do clube, possui uma fortuna de US$ 320 bilhões (R$ 2,397 trilhões), um valor quase 14 vezes maior que o do dono do PSG e 10 vezes maior que o clube mais rico do mundo e com o elenco mais caro do mundo, o adversário de Premier League, o Manchester City.

Ainda de acordo com tabloides, o clube já planeja o investimento de cerca de 1 bilhão de libras nas próximas duas temporadas, já visando títulos nacionais e a participação na UEFA Champions League.

Agora não tem mais volta. Gostando ou não, o novo clube rico do mundo está entre nós, o Newcastle United veio pra ficar, sendo ‘sportwashing’ ou não, o clube vai ser um dos protagonistas do cenário mundial a partir de hoje. Mesmo que seus princípios e sua origem de operários seja atropelada e ignorada para isso.

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