Tite testou variações táticas no início da partida do Brasil, mas foi conservador após a expulsão de Emerson e a equipe perdeu o controle do jogo. Fatores externos, como altitude e arbitragem ruim, também foram determinantes para o resultado final.
O Brasil começou o jogo da forma que todos esperavam: quatro homens na linha de zaga, laterais um pouco mais avançados como opção de amplitude, Casemiro e Fred perfilados na volância como “pivôs” e Coutinho com liberdade para percorrer todo o campo na zona de entrelinhas.
Com a ausência de Neymar e Paquetá, a dinâmica da criação do Brasil sofreu grandes alterações
Em condições normais, o atacante do Paris Saint Germain ocupa a ponta esquerda e recua até o meio para construir diferentes jogadas. Ele costuma cortar para dentro e acionar o extremo do lado direito ou tentar uma tabela pelo meio com o atacante central. Já o médio do Lyon atua como terceiro homem de meio campo pela direita, responsável por fixar a marcação e abrir espaço para quem vem de trás e dialogar com o Neymar.
Na partida contra o Equador, Tite apostou em Coutinho se associando a dois extremos. Isto é, o meia, até o momento da expulsão, recebia a bola pelos dois flancos do campo e tinha as opções de acionar Vini e Raphinha no “mano a mano” ou tentar um passe para Matheus Cunha nas costas da zaga adversária.
Até os cinco minutos de jogo, o Brasil tinha dificuldades de sair jogando com passes curtos. A seleção equatoriana aproximou as linhas de zaga e meio, com o intuito de dificultar os passes centrais dos volantes a Coutinho, Vini e Raphinha. A estratégia funcionou. Alisson, Militão, Thiago Silva e Casemiro passaram a acionar os dois pontas de forma direta. No Real Madrid, Vini está acostumado a receber passes diretos com a chance de avançar sobre o marcador. Na segunda tentativa dessa jogada, Vini conseguiu um escanteio e, do escanteio, saiu o gol. Ponto positivo. Alternância de estratégia para sair da pressão.
No minuto 17, a bola nas costas do adversário funcionou. Em situação de bola descoberta – aquela em que o portador recebe em condição de acionar a linha de fundo -, Fred encontrou Matheus Cunha entre dois zagueiros. Dominguez, goleiro equatoriano, errou o tempo de bola na saída, cometeu falta grave em Cunha, e foi expulso.
Lance que expôs dois diferenciais dos envolvidos. É cada vez mais comum ver o Fred dando lançamentos ao fundo no Manchester United, e o Matheus Cunha é primoroso em desmarques de ruptura para atacar o gol e criar espaços.
Entretanto, apesar do bom episódio, é preciso observar que o centroavante foi pouco ativo no apoio a passes frontais e não conseguiu reter a bola com a função de pivô. Cabe ao Tite trabalhar esse balanço no jogador ou testar outras opções.
Mudança de cenário
Com a expulsão de Emerson, Tite optou por sacar Philippe Coutinho, que era responsável por segurar a bola no campo de ataque, e colocou Dani Alves. Assim, a configuração de ataque se alterou, com os dois laterais se alinhando, por dentro, ao Casemiro e Fred encostando nos homens de frente.
A partir disso, a ideia era concentrar o jogo pela direita, atrair marcadores do Equador e acionar o extremo esquerdo, primeiro Vinícius e depois Gabriel Jesus, com liberdade para atacar. Por vezes, Dani e Fred trocavam de posição. O lateral, que atuou como médio na última temporada, fazia o “facão”, na diagonal de fora para dentro.
A opção de Tite por manter Fred e Casemiro foi conservadora e roubou parte do poderio ofensivo da equipe. Com Coutinho, as chances de prender a bola próxima ao gol adversário e fazer jogadas de aproximação entre os três atacantes seriam maiores. O treinador escolheu ter uma marcação reforçada na entrada da área e, por conseguinte, a equipe levou pouco perigo ao gol equatoriano.
Os últimos minutos foram marcados por falhas técnicas de marcação, falta de coordenação entre laterais e zagueiros para combater jogadas individuais dos atacantes adversários, erros na saída de bola por falta de concentração e arbitragem de péssimo nível. Infelizmente, o jogo acabou com mais pontos a serem corrigidos do que aproveitados.
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