Recentemente, foi possível acompanhar os episódios de violência no futebol. Não só no Brasil, a brutalidade foi aflorada nas últimas semanas, com diversos acontecidos. A princípio, esse atrito partia da torcida contra o clube, só que, como o ocorrido no México, esses conflitos também acontece entre torcidas organizadas, de times que possuem rivalidade dentro de campo.
Para tentar entender a motivação de tanta barbárie, o Na Beira promoveu um bate-papo com especialista. O professor Ricardo Aragão, formado em Ciências Sociais pela UFBA, além de ser mestre e doutorando da mesma Universidade, e agora, professor da Faculdade Anísio Teixeira, conversou sobre o caos no meio do esporte nos últimos dias.
Contextualização: episódios recentes
A saber, no dia 24 de fevereiro, o ônibus do Bahia foi atacado com pedras e bombas, direcionados da torcida. Nesse acontecido, o goleiro Danilo Fernandes teve corte profundo ao redor dos olhos. Além disso, no mesmo dia 24, a delegação do Náutico foi atingida por objetos que quebraram a janela do ônibus, na chegada dos jogadores em Recife.
Dois dias depois, no Sul do Brasil, a equipe do Grêmio recebeu pedradas da torcida adversária (Internacional), destinadas ao ônibus do clube gaúcho.
No mesmo dia, o Paraná acabou sendo rebaixado no Campeonato Paranaense. Com tentativa de descontar a raiva, os torcedores invadiram o campo em Curitiba, e tentaram agredir jogadores do clube.
Por fim, talvez o mais violento: no dia 25, em partida entre Atlas e Querétaro, no México, as torcidas rivais se encontraram e promoveram uma briga generalizada. Fora de controle, 26 pessoas ficaram feridas na ocasião, 3 em estado grave.
Foram 5 episódios em um intervalo de 3 dias.
Bate-papo: Ricardo Aragão explica os ocorridos
- A princípio, o que poderia motivar essas pessoas a cometerem essas barbáries dentro do estádio?
“Basicamente, o sentimento de ‘manada’. As pessoas, no grupo, tendem a agir de maneira diferente. As torcidas de futebol tem levantado esse sentimento de pertença, a partir da hostilidade ao outro. Existe uma atmosfera de disputa, junto com um certo sentimento de que o outro é o inimigo, e não só o adversário de um jogo.”
- A Torcida Organizada é o maior problema quando o assunto é violência no futebol?
“A torcida organizada potencializa a violência nos estádios de futebol. Como disse, esse grupo que te dá a sensação de manada e anonimato, você está ali e perde sua identidade individual, e virá o grupo.”
- No Estado de São Paulo, foi adotada a política da torcida única em Clássico. Ou seja, em um jogo entre Palmeiras x Corinthians, por exemplo, apenas a torcida do time mandante pode comparecer ao jogo. Essa medida é eficaz ou só afasta ainda mais a beleza e cultura do Futebol das suas verdadeiras origens?
“A torcida única é notadamente o Estado dizendo que não tem condições de dar segurança ao estádio. É horrível. Eu mesmo gostava muito de ir ao estádio de futebol, quando podia ir com meu irmão, que é Bahia, e eu sou Vitória. Brincávamos e podíamos ficar juntos. No entanto, a torcida única em Clássico é o reconhecimento da incompetência do Governo em conter essa violência.”
- Por fim, sabemos que uma das principais motivações dessa violência é o fanatismo esportivo, de determinada instituição ou organizada. Essas pessoas que participam de atos bárbaros, podem ser consideradas torcedores fanáticos, ou o rótulo passa a ser de criminoso? Até onde vai o Fanatismo e onde começa o Crime?
“Eles são criminosos, porque estão fora da lei naquele momento. Tem um pouco a ver com o fanatismo pelo clube, como a questão da torcida organizada. Mas eles são criminosos, que utilizam do extinto em grupo para cometer atos bárbaros.
Infelizmente, isso tem acontecido em nosso país. E não só no Brasil, isso (violência) tem ocorrido também pelo Mundo, as pessoas tendo comportamentos racistas dentro dos estádios. Além disso, também vem acontecendo a valorização do nazismo/nazifascismo, que é justamente essa ideia de que o grupo é mais forte, e dentro do grupo você é invencível”.
Me acompanhe no Twitter e Instagram!
Leia também: Futebol feminino no Brasil: Guia completo para acompanhar a modalidade em 2022