Quando criança sonhamos ingenuamente, às vezes, com coisas bem simples. Ao longo dos anos, talvez nós desvirtuamos desse sonho, que cresce além dos nossos desejos mais singelos, na tentativa de suprir as necessidades dentro do capital e até mesmo desejos do ego, acabamos indo em busca de mais e mais.
Não sei se é comum ver um adulto realizar aquele sonho sincero da infância, principalmente quando falamos de futebol. É costumeiro que desde pequenos, a ideia de ir cada vez mais alto nesse esporte cresça, somando títulos e status. Seu objetivo principal eu diria. No entanto, é normal que sonhem com títulos europeus, equipes de grandes nomes do velho continente e também com valores astronômicos de salário. Diante da nossa realidade e do prazo de validade de um jogador, não temos espaço para tal julgamento.
No dia 23 de junho de 2021, eu vi e senti de longe o que era a realização de um sonho e saber que estava vivendo-o. Esse foi o último jogo de Gerson com a camisa do Flamengo, antes de se mudar para a França e defender as cores do Olympique de Marseille. Eu estava na casa de meu pai e assistia pela televisão. Ao fim do jogo o Coringa da equipe sentou nos gramados e chorou, como se o sonho tivesse ali acabado. Eu também chorei. Ele caminhou até a placa de publicidade onde os jornalistas esperavam pela sua despedida, e ele apenas chorava enquanto tentava dizer suas últimas palavras com a camisa do clube que amava. Eu não consegui terminar de assistir. Eu também senti…
Aquela emoção que tomou conta de mim, foi nada menos que ver alguém que quando criança sonhou em jogar pelo Flamengo. Não importava o status de jogar em um time europeu, ele estava ali porque sempre foi seu sonho, sabia e sentia isso. Futebol não é só paixão, futebol também é negócio, e o clube por mais apreço que tivesse pelo jogador, por mais lágrimas que levasse ao torcedor, estava ali para negociar, e a venda precisava ser feita, e foi.
Gerson brilha e Flamengo goleia o Bolívar no Maracanã
Ele foi, cumpriu seu papel e fez um bom trabalho, ajudou na classificação da equipe para umas das maiores competições de clubes, a Liga dos Campeões. Enfim, retorna em 2023, contudo o clube com diversos problemas internos dentro e fora de campo, o atleta não se destacou e ainda foi algoz de uma das muitas polêmicas envolvendo os jogadores. Ano triste para todos os torcedores Rubro-Negros.
No ano de 2024, a histórica pressão da torcida sobre o clube reacendeu a vontade e a necessidade de ganhar. Sob comando de um novo técnico, Tite ex-seleção brasileira, Gerson assumiu a braçadeira de capitão e com os desfalques para a Copa América, volta a brilhar pela sua habilidade de ser um “coringa”, e mostra extrema competência na liderança.
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O fato do clube hoje ter condições de manter um jogador desse porte, da sua família estar ao redor, e ainda poder viver na cidade que nasceu e cresceu, faz a diferença para a realização desse sonho. No entanto, poucos são aqueles que sentem quando a realização chega e a valorizam. Gerson sabe disso, da alegria de torcer e estar em campo pelo clube que ama. Eu sou afortunada em ver o Gerson sendo feliz fazendo o que ama, onde sempre sonhou.