Falta muito pouco pro início da Copa do Mundo e quase todas as seleções já convocaram seus jogadores pro mundial. E se tem convocação, quase sempre há contestação. Geralmente a lista das principais seleções que estarão na Copa do Catar trazem um ou outro nome “intruso”, que “não deveria” estar ali, ou ainda, lembra-se de algum “injustiçado” que ficou de fora.
Não é preciso ir longe pra saber do que estou falando. Começando no terreiro de casa, muita gente não engoliu a convocação de Daniel Alves por Tite. No alto dos seus 39 anos, o lateral-direito disputou apenas 12 jogos na atual temporada , e não entra em campo há dois meses.
Na Inglaterra, muitos se perguntam como Gareth Southgate levou Harry Maguire e deixou de fora da lista nomes como Jadon Sancho e Ivan Toney. Na Espanha, as ausências de Sérgio Ramos, De Gea e Thiago Alcântara fizeram a convocação de Luís Enrique ser contestada.
Diante de situações como essa, algumas coisas precisam ser compreendidas e observadas. Muitas vezes, o que motiva treinadores a fazerem escolhas questionáveis é um quesito: a confiança. E convenhamos, ela é uma peça-chave. No fim das contas, é o técnico que terá que mexer os pauzinhos pra fazer o time funcionar, e será cobrado caso não consiga resultados. Então nada mais plausível que deixar o chef de cozinha escolher os ingredientes do prato que está cozinhando.
Seria exigir demais que um treinador colocasse as opiniões da torcida e/ou imprensa acima da sua ideia de jogo e de suas convicções e escolhas táticas. Imagine o caos que seria. Mas isso não significa que as escolhas não possam nem devam ser contestadas, pois muitas vezes não faltam argumentos pra tal.
Voltando ao caso de Daniel Alves, por exemplo. Ele é da confiança de Tite? Sim! A posição de lateral-direito é muito carente? Também! Mas será que levar um jogador que disputou 12 jogos em 2022 e não entra em campo há dois meses era a melhor decisão?
Já no caso das contestações à lista de Southgate, Harry Maguire pode até gozar da confiança do mesmo, mas será que foi sensato convocar um jogador que sabidamente vive o pior momento de sua carreira, em detrimento de Fikayo Tomori, por exemplo, que vive ótimo momento com a camisa do Milan? E nomes como Ivan Toney e Jarrod Bowen? Não mereciam um lugar na lista dado o ótimo futebol que ambos tem desempenhado?
E quanto a Luís Enrique, que deixou de fora um jogador com a experiência de Sérgio Ramos, que voltou a jogar bem na atual temporada, pra levar um instável Eric Garcia? E o que dizer da ausência do ótimo meio-campista Thiago Alcântara numa equipe que valoriza tanto a posse de bola? Pra não falar de De Gea, que desde a temporada passada faz ótimas exibições pelo Manchester United, e não ficou nem na pré-lista.
Como já foi dito, os treinadores tem noção do que querem pra seus times enquanto estilo de jogo, e buscam quem melhor preenche essas lacunas. Mas é preciso lembrar: estar convicto de algo nem sempre significa estar certo. Há uma frase que curiosamente diz: “os sábios são cheios de dúvidas, os ignorantes, de certezas”. E não se trata aqui de querer saber mais que treinadores sabidamente capacitados (exceção de Gareth Southgate), mas de lembrar que nenhum deles é imune ao erro.
Quando se trata de convicções, é preciso saber, entre outras coisas, confrontá-las e testá-las, e também saber quando elas devem ser revistas. É fácil bancar o engenheiro de obra pronta e sair apontando defeitos com base em uma percepção pessoal? Sim. Claro que as escolhas contestadas podem se provar corretas durante a Copa, e queimar a língua dos corneteiros de plantão.
Mas é bom que se diga. Não é novidade, dentro ou fora de uma Copa do Mundo, casos de treinadores que morreram abraçados á convicções que se mostraram trágicas em campo. E nesse contexto, quando uma convicção se mostrar errada, o sonho de todo um país pode morrer.