Exploração e trabalho escravo: O que não te contaram sobre a Copa no Catar

Maior evento esportivo do planeta tem milhares de casos de exploração e falta de direitos trabalhistas

Em novembro, o Catar sedia a 22ª edição da Copa do Mundo. O maior evento de esportes do planeta contará com mais de 30 países, que duelam nos novos 8 estádios do país, localizado no Oriente Médio. A princípio, as cidades de Lusail, Al Khor, Doha (capital), Al Rayyan e Al Wakrah recebem os jogos das seleções que irão participar da Copa em 2022.

No entanto, a Anistia Internacional escancarou para o mundo o outro lado sobre a realização da Copa no país. Um retrato de exploração, trabalho escravo e corrupção encobrem a edição mais polêmica da Copa do Mundo.

O Catar e o futebol

Al Rihla, bola oficial da Copa do Mundo 2022. (Foto: Adidas)

Tudo começou com o “sorteio” do país-sede para a Copa do Mundo de 2022. Isso aconteceu há 12 anos, em 2010, quando o Catar foi sorteado pelo presidente da FIFA na época. No entanto, uma investigação foi realizada por órgãos externos e pela própria FIFA para apurar se houve fraude no sorteio. Mas nada foi comprovado.

O curioso é que, pela primeira vez na história, o Oriente Médio irá receber uma edição de Copa do Mundo. O Catar é um país rico, com sua economia girando pelo petróleo. Por lá, foram investidos 200 bilhões de dólares, algo em torno de 1 trilhão e 200 bilhões de reais na realização da Copa, incluindo: 8 estádios com alta tecnologia e um novo aeroporto. Dessa forma, o país vai se provar para o mundo como uma grande potência.

Imigrantes sofrem com situações desumanas no Catar

Trabalhadores durante construção de estádio de Lusail. (Foto: AFP)

A maioria da força de trabalho no Catar é de imigrantes. Mais de 30 mil imigrantes, de países como Sri Lanka, Bangladesh e Arábia Saudita, se mudaram para o país a fim de trabalhar nesse projeto. Para chegar até lá, as pessoas pagam até 4 mil dólares para terem mais chances de serem escolhidas para trabalhar no lugar. No entanto, quando chegam de fato no país, se deparam com outra situação: salários baixíssimos, em torno de 190 dólares por mês, mesmo em um trabalho de alto risco. O resultado final é apenas um: endividamento.

Mesmo com todo esse valor investido pelo governo no projeto, um grande problema foi escancarado para o mundo sobre as condições das pessoas que trabalham na construção de toda arquitetura para receber a Copa no Catar. Essa, sem dúvidas, será a edição com mais polêmicas da FIFA.

Isso porque, já em 2016, o grupo de direitos humanos Anistia Internacional, acusou o país de usar trabalho forçado. Em fevereiro de 2021, o The Guardian afirmou que 6.500 pessoas morreram no Catar desde que o país foi sorteado para sediar a Copa, ou seja, em 2010. O governo do Catar, por outro lado, aponta 37 mortes apenas entre 2014 e 2020. Mas será mesmo?!

As principais causas dessas mortes e ferimentos foram quedas de lugares altos, acidentes de trânsito e objetos que caíram sobre os trabalhadores.

Além disso, segundo a BBC, ao menos 571 trabalhadores do Catar morreram vítimas de parada cardíaca nos últimos anos, e 200 deles, podem ter sido vítimas de insolação, justamente devido as altas temperaturas. O país proíbe trabalhos do tipo no verão ou quando o calor supera 32,1°C, mas uma investigação da BBC aponta que parte das mortes por insolação está subnotificada.

Certa vez, um trabalhador se queixou ao governo local sobre suas condições de trabalho, e logo depois, foi detido.

Mulher que trabalhava na Copa é vítima de estupro, mas foi condenada a chicotadas

Paola Schietekat foi vítima de abuso sexual no Catar. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Um dos casos mais bizarros de toda essa situação envolvendo o Catar. Uma mexicana de 27 anos, que trabalhava no Comitê Organizador do evento, foi vítima de abuso sexual quando um homem invadiu seu apartamento enquanto dormia. A princípio, o caso ocorreu em junho de 2021, e logo após o crime, a mulher identificada como Paola Schietekat foi até uma delegacia prestar queixa. No entanto, Paola foi colocada frente a frente com seu agressor, que acusou a mexicana de ter tido uma relação consensual, ou seja, permitida.

Após isso, o caso sofreu uma reviravolta surpreendente e revoltante. Paola Schietekat passou de vítima, para criminosa. Isso por que, depois do agressor acusar a mulher de ser sua parceira sexual, Paola foi condenada por adultério extraconjugal, quando o Governo fica ciente de relações sexuais fora do casamento, o quê, por lá, é proibido.

Com a sentença do governo, Paola foi condenada a 100 chibatadas, além de 7 anos de prisão. Por sorte e com ajuda do Comitê Internacional, a mexicana de 27 anos conseguiu fugir do país. Paola ainda mantém o sonho de trabalhar na Copa, mesmo com toda a situação revoltante.

Autoridades fingem não ver

Gianni Infanto, presidente da FIFA, e o ministro Ali bin Samikh Al Marri. (Foto: FIFA)

Agora, você deve estar se perguntando: onde estão as autoridades enquanto isso acontece?! A resposta é simples: FIFA e o Governo empurram a sujeira para debaixo dos “panos”, a fim de não estragar o espetáculo e todo o investimento no maior evento esportivo do planeta.

Em um dos pronunciamentos, o atual presidente da FIFA, Gianni Infanto, respondeu aos jornalistas:

“A realização da Copa do Mundo contribuiu para a melhoria de condições de trabalho no Catar e ajudou a introduzir mudanças nas leis trabalhistas locais. Estamos sempre abertos para discussões construtivas e transparentes, além de levar qualquer preocupação aos nossos parceiros”

Por outro lado, o Governo do país disse, por meio de um porta-voz, o seguinte:

“Foi feito um progresso significativo para assegurar que as reformas sejam efetivamente aplicadas e o número de empresas que desrespeitam as regras continuará a diminuir à medida que as medidas de fiscalização forem implementadas”

Por fim, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) trabalha duramente no caso. O órgão mais respeitado quando o assunto são direitos trabalhistas produziu uma série de recomendações e plano de ação para lidar com o problema. No entanto, existe uma falha na comunicação com a divulgação dos números do Catar com outras entidades, prejudicando a atuação da entidade no caso. Além disso, pediu uma investigação feita por peritos e inspetores do Ministério do Trabalho local.

você pode gostar também