Por que a Seleção do Irã optou por não cantar o hino nacional na Copa?

Postura dos iranianos chamou atenção e reforçou que a política e o futebol, muitas vezes, andam juntos

Há alguns meses, Mahsa Amini, uma jovem iraniana de 22 anos foi presa pela polícia de promoção da virtude e combate ao vício por, supostamente, violar o código de vestimenta obrigatório que obriga as mulheres iranianas a cobrir completamente os cabelos em locais e situações públicas.

Após a execução de Amini, uma onda de protestos e manifestações tomou as ruas do Irã e, desde então, ao menos outras 58 crianças e adolescentes foram mortos pelas forças de segurança do país de acordo com a organização Ativistas de Direitos Humanos no Irã. Além disso, mais de 14 mil pessoas sendo presas por supostas ligações com os protestos e as penas são as mais severas possíveis – com uma pessoa, inclusive, sendo condenada a morte.

A grande questão é que, apesar do número já bastante elevado de mortes e prisões, é possível que eles sejam ainda maiores por conta da falta de transparência do governo iraniano somada à supressão da mídia e da internet no país. Ou seja, a situação é ainda mais delicada.

Portanto, foi exatamente em apoio às mobilizações populares no país que a Seleção Iraniana decidiu não cantar o hino nacional antes da partida contra a Inglaterra nesta segunda-feira (21). Os 11 jogadores titulares que participaram do protocolo de início de partida, ficaram em silêncio enquanto o hino iraniano tocava no Khalifa International Stadium. Alguns jogadores, ainda, abaixaram suas cabeças.

Nas areias, o primeiro protesto do Irã

Saeed marcou o gol que deu o título ao Irã sobre o Brasil no Torneio Intercontinental de futebol de areia
Saeed Piramoon fez gesto de corte de cabelo em apoio às mulheres iranianas após marcar gol do título. Foto – Profimedia

 

No início do mês de novembro, houve o primeiro protesto de uma equipe esportiva iraniana em relação à situação que se desenrola no país.

Na final do Torneio Internacional de Futebol de Areia contra o Brasil, Saeed Piramoon marcou o gol que garantiu a vitória do Iraniana por 2-1 e a consequente conquista do título. Ao invés de celebrar o gol, Piramoon realizou o gesto simbólico de cortar o cabelo em apoio aos protestos das mulheres iranianas pelo direito de não cobrir os cabelos em público. Da mesma forma, na hora de comemorar o título, a seleção escolheu não fazer qualquer celebração.

No dia seguinte ao ocorrido, a Federação Iraniana de Futebol emitiu um comunicado declarando que “aqueles que não seguiram as éticas profissionais e esportivas serão tratados de acordo com as regulações”.

Sendo assim, é importante ressaltar a postura de enfrentamento das equipes de futebol de areia e de campo do país iraniano. Enquanto muito se fala sobre os capitães de seleções europeias querendo realizar protestos contra a organização da Copa do Catar, pouco se dá atenção à forte posição iraniana que bate de frente com um governo que não mede esforços para eliminar opositores.

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