Gales é o país com pouquíssima tradição no futebol e não disputava uma Copa do Mundo há 64 anos, tendo feito em 1958 uma campanha histórica, apenas parando no Brasil de Pelé nas quartas-de-final.
A Copa de 1958 foi a única Copa até hoje da qual todas as quatro seleções britânicas participaram (Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e Gales), mas chegar até lá não foi nada fácil para os galeses, na verdade, eles contaram mais do que tudo, com a sorte. A seleção ficou atrás apenas da Tchecoslováquia em seu grupo nas eliminatórias em uma época em que apenas os primeiros se classificavam, mas uma tensão política no Oriente Médio intercedeu pelos galeses.
Por conta de uma crise entre egípcios e israelenses, que envolvia o Canal de Suez, todas as equipes que enfrentariam a seleção de Israel se recusaram a jogar, o que em teoria levaria os israelenses direto para a Copa, porém, havia uma regra que impedia uma seleção de chegar ao mundial sem jogar nenhuma partida de eliminatórias, e a solução criada foi Israel enfrentar um dos segundos colocados das eliminatórias, definido por sorteio. Antes do sorteio, várias seleções se recusaram a participar e, com isso, o sorteio caiu no colo de Gales, que venceu Israel por 2×0 nos dois jogos da repescagem e rumou para a Suécia para disputar sua primeira Copa do Mundo.
Os galeses caíram no grupo 3, com a badalada Suécia e uma Hungria que, apesar de não contar com os principais craques do vice-campeonato de 1954, ainda tinha uma seleção forte. Na primeira partida, diante da Hungria, eles saíram perdendo logo aos 4 minutos de partida, com gol de Bozsik, mas não demoraram muito a buscar o placar com John Charles, aos 26 do primeiro tempo, e conseguiram segurar o placar contra a atual vice-campeã do mundo.
O segundo compromisso foi contra o México, onde Gales abriu o placar aos 32 minutos do primeiro tempo com gol de Ivor Allchurch, mas tomou o empate de Jaime Belmonte aos 69 minutos. O terceiro e último jogo era contra os donos da casa, a Suécia, equipe muito mais forte, mas que vinha já classificada após duas vitórias fáceis. Gales conseguiu segurar um 0x0 contra os anfitriões e terminou a fase de grupos com o mesmo número de pontos que a Hungria, o que exigiu um jogo de desempate entre as duas seleções.
Em partida com cara de oitavas-de-final, a seleção galesa tomou o primeiro baque aos 33 minutos com gol de Tichy pela Hungria, mas no segundo tempo veio com tudo, empatando aos 55′ com Allchurch e virando aos 76′ com Terence Medwin, garantindo assim a vaga nas quartas-de-final em sua primeira participação na história.
A sorte não foi boa com os galeses e eles cruzaram com o primeiro colocado do grupo 4, justamente o Brasil, que tinha Pelé pedindo passagem e que marcou seu primeiro gol em Copas justamente contra Gales, aos 66 minutos de partida, mandando os galeses para casa. Ao voltar para Gales, a seleção não recebeu desfiles e nem foi ovacionada pelo público, tendo até impressionado mais os jornais ingleses do que os de seu próprio país.
Os artilheiros
Ao contrário do que se vê na seleção galesa hoje em dia, os 3 jogadores que marcaram por Gales em na Copa eram jogadores de ponta em seus clubes. Terry Medwin, que fez o gol da virada contra a Hungria, jogava pelo Tottenham e foi campeão inglês pelo clube em 1961, no que é até hoje o último título nacional da equipe. Ivor Allchurch, o artilheiro máximo da seleção da Copa, com 2 gols, que depois do torneio se transferiu para o Newscastle, jogava pelo Swansea, onde atuou por 14 anos ao todo somando as suas duas passagens e possui até uma estátua em sua homenagem do lado de fora do Liberty Stadium.
E também o principal nome da seleção, John Charles, que jogou por 9 anos no Leeds United, até se transferir para a Juventus em 1957, onde ficou por 5 anos, conquistando três vezes a Serie A, duas vezes a Coppa Italia e se tornando o maior artilheiro estrangeiro do clube, marcando 93 gols em 155 partidas. Posteriormente essa marca foi batida por Michel Platini e David Trezeguet.
Vamos ficar de olho na seleção galesa para vermos a história sendo relembrada e reescrita nessa Copa de 2022.