Os últimos campeões da Libertadores

Das últimas dez Libertadores, seis foram vencidas por brasileiros

A Copa Libertadores da América foi, por muito tempo, dominada pelos argentinos. Os nossos vizinhos venceram 25 das 64 edições e o domínio nas décadas de 60 e 70 era tão absurdo que, num período de 1964 a 1978, os hermanos só não ficaram com a taça em três anos. O Independiente-ARG, maior campeão, com sete títulos, venceu quatro seguidos de 72-75. Apesar de ainda “assustarem” no âmbito sul-americano, a sorte começou a mudar pro lado de cá. Nas últimas dez edições, River Plate-ARG e San Lorenzo-ARG até “coparam”, mais seis Libertadores vieram pro Brasil.

CAMPEÕES DA LIBERTADORES 2013-2023

Atlético-MG

Em uma das edições mais dramáticas, o Galo conquistou a América do Sul pela primeira vez. O Atlético de hoje, brigando por todos os títulos que disputa, teve um capítulo importante em 2013 pra essa caminhada. Na Libertadores daquele ano, o time comandado por Ronaldinho, Diego Tardelli, Bernard e Jô, teve a melhor campanha na primeira fase, mas só teve vida tranquila até as oitavas. No mata-mata, o Galo atropelou o São Paulo, mas botou a saúde do torcedor em questão.

Galo venceu sua primeira Libertadores em 2013. Foto: Bruno Cantini

 

Nas quartas, precisou do milagre de Victor no Horto pra eliminar o Tijuana-MEX. Na semi, eliminou o Newell’s Old Boys-ARG nos pênaltis, depois de perder por 2×0 na Argentina e devolver o placar em Belo Horizonte. Na final contra o Olímpia, o cenário se repetiu e, depois da derrota por 2×0 no Paraguai, Leonardo Silva levou a decisão pra prorrogação. Nos pênaltis, Victor e a trave garantiram o primeiro título de Libertadores da história do Atlético-MG. A América era Alvinegra e os vencedores estavam em êxtase.

San Lorenzo-ARG

Nas semifinais mais exóticas, o time do Papa acabou com a piada. A Libertadores de 2014 foi das zebras. Os quatro semifinalistas, San Lorenzo-ARG, Nacional-PAR, Defensor-URU e Bolívar-BOL nunca haviam chegado tão longe na competição e o San Lorenzo, o mais tradicional destes times, era motivo de chacota em Buenos Aires por ser o único “grande” na Argentina a nunca ter conquistado o principal título sul-americano.

San Lorenzo acabou com a piada em 2014. Foto: Conmebol

 

Depois de terminar em segundo no seu grupo, tendo a segunda pior campanha entre os times que avançaram pras oitavas, o San Lorenzo eliminou Grêmio, Cruzeiro e Bolívar, sempre decidindo fora de casa. A única decisão em Buenos Aires foi justamente a final, onde o San Lorenzo bateu o Nacional-PAR, que tinha a pior campanha entre os times no mata-mata. A vitória por 1×0 no Nuevo Gasómetro foi muito comemorada em Buenos Aires e no Vaticano. Festa abençoada dos ganhadores da libertadores.

River Plate-ARG

Depois de 19 anos, o gigante do Monumental voltou a levantar a Libertadores. A seca já incomodava bastante e era missão de Marcelo Gallardo – treinador que fez história como jogador, mas aparecia como uma aposta da diretoria – de terminar com o jejum. A fase de grupos do River foi bem aquém em 2015. Ficando no segundo lugar, num grupo com Tigres-MEX, Juan Aurich-PER e San José-BOL, os Millionarios tiveram a pior campanha entre os classificados.

River encerrou um longo jejum em 2015. Foto: Juan Mabromata

 

Nas oitavas de final, encontrou logo o Boca Juniors-ARG, seu maior rival, mas depois da vitória em casa, uma confusão em La Bombonera, com spray de pimenta no túnel dos jogadores disparado por torcedores do time da casa, anularam o jogo e classificaram o River. O time embalou, eliminou Cruzeiro e Guarani-PAR e reencontrou o Tigres na final. Como a finalíssima precisava ser em solo sul-americano, o River levantou a taça na frente de sua torcida depois da vitória por 3×0. Depois de quase duas décadas, os Millionarios estavam no topo. Mais do que nunca, campeões da copa libertadores.

Atlético Nacional-COL

O gigante colombiano reconquistou a Libertadores de forma incontestável e abasteceu os times brasileiros. Os destaques daquele time campeão reforçaram Flamengo e Palmeiras logo depois. Marlos Moreno e Orlando Berrío continuaram duas carreiras no Rio e Alejandro Guerra e Miguel Borja foram pra São Paulo. Nenhum dos quatro se firmou.

Mas enquanto estavam em Medellín, as coisas funcionavam. Se nas duas edições anteriores, as zebras passearam pelos campos sul-americanos, o Atlético Nacional-COL fez valer a melhor campanha da primeira fase em 2016. Com cinco vitórias e um empate nos seis jogos iniciais, os colombianos só sofreram o primeiro gol na competição no mata-mata.

Atlético Nacional foi quase perfeito em 2016. Foto: AFP

 

Muito superior, o Atlético foi dominando os adversários na fase final. 4×2 no agregado contra o Huracán-ARG nas oitavas, 3×2 contra o Rosário Central-ARG nas quartas e 4×1 contra o São Paulo nas semis. Na grande final, o Nacional venceu a sensação da competição, Independiente Del Valle-EQU, em Medellín, depois do empate em Quito, e conquistou sua segunda Libertadores. A América dançava ao ritmo de Cumbia.

Grêmio

O Brasil começa a tomar conta do futebol sul-americano. O time copeiro de Renato Gaúcho já tinha dado resultado em 2016, no ano anterior, com o título da Copa do Brasil. O próximo passo era a Libertadores e Arthur e Luan trataram de elevar o nível gremista. Depois da boa campanha na primeira fase, sendo líder do grupo, o Grêmio foi econômico, mas muito eficiente.

Grêmio conquistou o Tri na Argentina em 2016. Foto: Juan Mabromata

 

A única vitória por mais de dois gols de diferença foi contra o Barcelona-EQU, nas semifinais, quando Grêmio amassou os equatorianos em Guayaquil, vencendo por 3×0. Nas oitavas, venceu os dois jogos contra o Godoy Cruz-ARG e nas quartas, passou com um único gol pelo Botafogo. Depois do domínio contra o Barcelona, o Grêmio venceu os dois jogos contra o Lanús-ARG na final, e conquistou o título fora de casa. O Imortal era Tri na província de Buenos Aires.

River Plate-ARG

O respiro argentino em Madrid. 2018 marcou o último ano em que um clube fora do Brasil conquistou a Libertadores e foi de um jeito épico, mesmo com a confusão da Conmebol. O River Plate de Marcelo Gallardo entrou como um dos favoritos à conquista e, depois de terminar a primeira fase na liderança do seu grupo, os Millionarios fizeram uma “Copa Argentina” no mata-mata.

Nas oitavas, conseguiram eliminar o Racing-ARG vencendo por 3×0 no Monumental, depois de empatar em Avellaneda. Nas quartas, outro clássico contra um time de Avellaneda, e mais uma classificação vencendo o jogo em casa depois do empate, mas dessa vez, um 3×1 no Independiente-ARG. Nas semis, o único “intruso” foi o Grêmio e o River precisou vencer em Porto Alegre pra avançar nos gols fora de casa.

River venceu a primeira decisão em outro continente. Foto: AFP

 

A final foi a que toda a América mais esperava: o Super Clássico contra o Boca Juniors. Depois do 2×2 na Bombonera, teve confusão no dia do jogo final no Monumental, ônibus do Boca apedrejado e partida transferida pro Santiago Bernabéu, em Madrid. Na casa do Real Madrid, o River venceu por 3×1 na prorrogação e se tornou o primeiro sul-americano a vencer a Libertadores fora do continente. Millionarios campeão do outro lado do Atlântico.

Flamengo

Na primeira final em jogo único, o Brasil manda no continente. Desde a geração de Zico, Júnior, Leandro, Andrade e mais outros grandes craques do Flamengo, o clube tentava voltar a conquistar a Libertadores. Depois de muitas decepções, 2019 parecia ser mais um vexame pra conta dos flamenguistas e a primeira fase foi tensa. O Flamengo passou como líder num grupo com LDU-EQU, Peñarol-URU e San José-BOL, mas só garantiu a vaga no último jogo.

Flamengo venceu uma das maiores finais da história da Libertadores. Foto: Getty Images

 

Depois da chegada de Jorge Jesus, o Flamengo eliminou o Emelec-EQU nas oitavas, tirou o Internacional nas quartas e atropelou o Grêmio nas semis, antes de chegar ao Peru. No Monumental de Lima, o Flamengo protagonizou a virada mais monumental em uma decisão de Libertadores. Até 44 minutos do segundo tempo, o River encaminhava seu quinto título, mas Gabriel Barbosa levou a nação da explosão ao choro em três minutos. 1981 não estava mais sozinho na história Rubro-Negra.

Palmeiras

O domínio brasileiro é consolidado. Em 2020, o mundo foi afetado pelo COVID-19 e, como o planeta parou por um período, a Libertadores só se encerrou em 2021. Até a decisão, o Palmeiras só temia os casos de COVID no elenco, pois em campo a vida ia tranquila. Primeira fase com 16 pontos em 18 disputados, atropelamento contra o Delfín-EQU nas oitavas e controle absoluto contra o Libertad-PAR nas quartas.

Palmeira venceu a Libertadores no meio da pandemia. Foto: Guito Moreira

 

Nas semis, o Palmeiras dava a impressão de que ia passear da mesma forma depois de vencer o River Plate, na Argentina, por 3×0, mas a classificação quase foi pro vinagre depois de perder por 2×0 no Allianz e tomar pressão no fim do jogo. Na final, o Palmeiras bateu o Santos com um gol de Breno Lopes aos 54 minutos do segundo tempo, num Maracanã quase vazio por conta das recomendações da OMS e a obsessão foi saciada. Verdão Bicampeão da Libertadores da América.

Palmeiras

Pra repetir a festa, mas com festa de verdade. Em 2021, a vida parecia estar voltando ao normal e o Palmeiras mostrou isso na fase de grupos. Como de costume, o time de Abel Ferreira foi completamente dominante contra Defensa y Justicia-ARG, Independiente Del Valle e Universitario-PER, se classificando com muita tranquilidade pro mata-mata.

Alviverde é o único a vencer a competição duas vezes seguidas na última década. Foto: Eitan Abramovich

 

Depois de vencer a Universidad Católica duas vezes por 1×0 nas oitavas, o Palmeiras só enfrentou brasileiros até a final. Venceu o São Paulo por 4×1 no agregado nas quartas, passou pelo Atlético-MG depois de dois empates na semifinal e encontrou o maior rival dos últimos anos na final: o Flamengo. Na decisão entre os times que vêm dominando o cenário sul-americano, uma falha na prorrogação decidiu o jogo. Raphael Veiga e Gabriel marcaram no tempo normal, mas Andreas Pereira foi o vilão e transformou Deyverson em herói. Obsessão virando rotina, com a ajuda de um atacante fora da caixa.

Flamengo

Na terceira final seguida entre brasileiros, o Flamengo conquistou seu terceiro título. Tal qual 2019, o Flamengo começou com desconfiança, mas mesmo assim, terminou a primeira fase com cinco vitórias e um empate. Também como no ano do Bi, o time mudou de treinador durante a temporada e coube a Dorival Júnior ser o comandante no Tri.

Flamengo era o atual campeão da Libertadores até 2023. Foto: Getty Images

 

Nas oitavas, massacre sobre o Deportes Tolima-COL. Nas quartas, domínio completo sobre o Corinthians, com duas vitórias. Na semifinal, baile contra o Vélez Sarsfield-ARG na casa do hermanos. O Flamengo chegava invicto e com um ótimo desempenho na final contra o Athletico-PR, em Guayaquil. Com tensão, mas com muito controle, Gabriel Barbosa apareceu novamente pra colocar mais uma plaquinha com o nome do Flamengo na taça Libertadores. A América era do Mais Querido pela terceira vez.

 

Atualização em 10/11/2023

Fluminense

Fluminense conquistou seu primeiro título internacional em casa. Foto: Sérgio Moraes/Reuters

 

Depois de perseguir esse título por mais de quinze anos desde a decepção em 2008, o Fluminense de Diniz alcançou a Glória Eterna em 2023. A frustração contra a LDU, há quinze anos, serviu de motivação pro elenco “sub-40” do Tricolor das Laranjeiras nesta edição da Libertadores. A final no Maracanã era o ingrediente a mais pra exorcizar o fantasma equatoriano. Na fase de grupos, o time de Diniz goleou o River Plate no Maraca por 5×1, mas não teve vida fácil. O time terminou na liderança com 10 pontos, seguido pelos argentinos, também com 10, e pelo Sporting Cristal-PER, com oito. O The Strongest-BOL foi o lanterna com seis pontos, mas na última rodada, todos tinham chance de avançar.

Nas oitavas, o Fluminense enfrentou o encardido time do Argentinos Juniors e, com polêmica de arbitragem, acabou se classificando depois de vencer no Rio de Janeiro por 2×0. Nas quartas, vida bem mais fácil. Duas vitórias contra o Olímpia, por 2×0 em casa e por 3×1 no Paraguai, e vaga nas semis. Contra o Internacional, o time de guerreiros esteve eliminado até os 35 minutos do segundo tempo do segundo jogo, mas Jhon Kennedy e Germán Cano (e Enner Valência) se tronaram heróis. Na final, Cano marcou mais uma vez e se tornou artilheiro da competição, mas depois do empate de Advíncula, coube ao menino com nome de presidente dar o título ao Flu na prorrogação.

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