Não é de hoje que administrativamente, a situação do Barcelona é caótica e nem é a primeira vez que se vê um presidente do Barcelona se envolvendo em escândalos. A lista já tinha pelo menos dois ex-mandatários que já tinham sido presos: Josep Lluís Núñez e Sandro Rossell. E foi justamente o sucessor de Rossell, Josep Maria Bartomeu que entrou para esta lista. O dirigente mal tinha renunciado e foi preso na manhã desta segunda, no Camp Nou, sede do Barcelona. Além do ex-mandatário do clube, foram detidos o CEO Óscar Grau, Román Ponti, do Jurídico e Jaume Masferrer, ex-assessor de Bartomeu.
De acordo com a rádio Cadena SER, foi feita uma operação de busca e apreensão de dados e informações, com mandado de prisão da polícia catalã, sob ordem expedida pela justiça espanhola. Bartomeu e demais dirigentes são acusados de contratarem uma empresa de mídia para criticar e atacar atletas e seus familiares, entre eles, Lionel Messi, Gerard Piqué e o ex-jogador Xavi.
Os fatores da crise que culminaram com a prisão de Bartomeu
O caso se tornou público em fevereiro de 2020, quando a rádio espanhola Cadena SER informou que o clube azul-grená tinha contratado uma empresa de mídia digital chamada l3Ventures, para realizar ataques e críticas a atletas e familiares, como Messi e sua esposa nas redes sociais, o que incomodou muito o craque argentino, que manifestou tal desconforto a público. Além dos ataques, eram realizadas publicações em defesa da diretoria. Segundo informações da Cadena SER, o clube pagou 1 milhão de euros para a empresa.
A repercussão do BarçaGate voltou em abril, quando seis dirigentes pediram demissão do clube e alguns outros membros foram presos. As demissões supostamente ocorreram após discordâncias com Bartomeu. Foram circuladas declarações cruzadas entre membros da diretoria culé.
O ato seguinte viria em junho. Noelia Romero, diretora de conformidade do Barcelona deixou o cargo, o que alimentou um pouco mais a discussão sobre o risco de Bartomeu renunciar à presidência. No mês seguinte, uma auditoria apontou a irregularidade pela qual a diretoria do Barça foi acusada, porém Bartomeu foi inocentado da responsabilidade da contratação de serviços para difamação e corrupção, o que irritou Noelia Romero, que se pôs à disposição para ajudar nas investigações.
Por fim, a crise administrativa chegou ao campo. Sob comando de Quique Setién, o time não conseguiu conter os abalos extra-campo e os resultados no gramado refletiram ainda mais o caos. O Barcelona deixou escapar o título espanhol para o Real Madrid e foi humilhantemente eliminado da Champions pelo Bayern com uma histórica goleada por 8 a 2.
No fim da temporada 19/20, mais um capítulo infame na história. Messi, símbolo do clube manifesta desejo de sair, não só pelo incômodo com o caos institucional do Barça, mas também pelo fato do clube não lhe oferecer um planejamento e um projeto esportivo com decência. No fim das contas, o astro voltou atrás e decidiu permanecer na equipe blaugrana, mas nada disso livrou Bartomeu de seu inferno astral. Com a pressão e as crises esportivas e administrativas escancaradas dentro do clube, Bartomeu enfim, renuncia ao cargo de presidente do Barcelona.
Carlos Tusquets assumiu interinamente a presidência do clube, cargo que vai ocupar até o fim do processo eleitoral no Barça, no dia 7 de março, seis dias depois da prisão de seu antecessor. No processo eleitoral concorrem à presidência Victor Font, Toni Freixa e Joan Laporta, que presidiu o clube entre 2003 e 2009 e que é considerado como favorito de forma ampla para retornar ao cargo.
As perdas causadas por uma gestão
O mais triste para o torcedor culé, além das fraudes, é como que Bartomeu conseguiu terminar o processo de destruição da identidade blaugrana. Sandro Rossell, que foi acusado de contratar jogadores jovens de forma ilegal para o clube, iniciou um processo de distanciamento entre o Barça e sua alma, que são seus valores esportivos e institucionais, chutando para longe um legado construído por figuras como Johan Cruyff, que como jogador e treinador expôs a representatividade regional e esportiva do clube e que tantos outros ídolos deram continuidade, como Guardiola, Xavi, Messi e outros. Isso se reflete no fato de o Barcelona ter deixado de olhar para seu patrimônio que é a base e desperdiçar dinheiro em contratações de atletas que não ajudam o clube em nada na maioria das vezes.
A única esperança do culé a partir de agora, é que seu clube volte a ser um símbolo do romantismo futebolístico, o que sempre foi o diferencial do gigante que Joan Gamper um dia fundou.