Poucas coisas são mais belas no futebol que ver a bola passando pela barreira e estufando a rede. Mais recentemente marcada por momentos maravilhosos como um belo remate diretamente de um pé de anjo, do monumental gol de Juninho, pela passada do Galinho, pelo mitológico 100º gol de um goleiro em sua carreira ou pela potência de Assunção, o gol de falta é cada vez mais raro em terras brasileiras.
O Campeonato Brasileiro de 2020 igualou -negativamente- a marca de 2016 com o menor número de gols de falta na década, com 17 tentos (média de 0,4 por rodada). Para efeito de comparação, o campeonato de 2013, recordista positivo nesse período, contou com 45 feitos, praticamente triplicando a média.
Essa escassez em solo brasileiro ocorre por conta de muitos aspectos, e o primeiro deles a ser destacado é a questão física. Para muitos especialistas em bola parada de antigamente, o maior segredo das cobranças certeiras era a repetição depois dos períodos de treinos no dia-a-dia, mas de acordo com muitos médicos fisiologistas, tal prática prejudica muito a musculatura do atleta, o deixando mais vulnerável a lesões, o que causou uma redução drástica no volume de treinos voltados para esse arremate.
Como fator emocional, a falta de confiança do jogador é outro aspecto que influencia na hora de finalizar diretamente uma cobrança de falta. A carência de chutes de fora da área é outro problema “inconsciente” do futebol brasileiro que chama a atenção a ponto de que, quando sai o chamado “gol de longe”, muitas vezes é o destaque da rodada. Se os jogadores não têm confiança para arriscar um chute de fora da área, de falta é que não vai sair.
Além de beleza e romance do lance, existem diversos outros motivos para buscar a melhora dessa estatística, o principal deles é o desequilíbrio em momentos cruciais: Dos gols vindos desse recurso no Brasileirão de 2020, 76% abriram vantagem mínima ou empataram o jogo no momento em que foram feitos, ou seja, é responsável absoluto pela conquista de pontos importantíssimos.
No fim das contas, seja por meio de estatísticas ou pela visão bela e romântica da essência do talento brasileiro, é impossível medir o quanto o gol de falta faz falta.