Depois de 7 meses suspenso, o Athletico Paranaense vai às compras. Define seu alvo. Marcinho, ex-Botafogo. Contratado e anunciado no Twitter do clube, presencia-se uma ojeriza coletiva, por parte da torcida do Furacão. O motivo: o lateral foi acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por duplo homicídio culposo, agravado pela fuga do local, após atropelar e matar Maria Cristina José Soares e Alexandre Silva de Lima, no dia 30 de dezembro de 2020. Véspera de ano novo.
Crescemos com a utopia de que ninguém está acima da lei. Omitiram certos aspectos desse senso comum. Caso o cidadão possua uma boa quantidade de dinheiro ou, então, seja uma notória pessoa pública, terá, como garantia, aquela passada básica de pano e imunidade. Cifras monetárias são capazes de esconder corpos, tranquilizar a consciência, mesmo que, comprovadamente, as mãos – lataria, também – estejam sujas de sangue.
Quando unida, a voz humana ecoa por todos os rincões, combatendo a injustiça e o esquecimento. As redes sociais estão aí, para provar. Vide Robinho, no ano passado. Óbvio, todos tem o direito à famosa “segunda chance”. Mas, como pode existir segunda chance se o individuo não pagou pelo seu erro? Não ficou preso, tal qual aqueles que cometem crimes – ok, nem todos. O Alzheimer da diretoria do rubro-negro curitibano é o carimbo da impunidade, numa tentativa de, aos poucos, apagar o delito. Duas vidas foram escanteadas, em prol do desempenho em campo.
Eduardo Galeano, mestre, escritor uruguaio, um dos maiores do nosso continente, indagava, em “As Veias Abertas da América Latina”: “O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos?”. Fingiram que não escutaram, ignorando tudo ao redor. Infelizmente.