Ontem, um ano atrás, num 30 de outubro que não foi qualquer, a Sociedade Esportiva Palmeiras anunciava o técnico Abel Fernando Moreira Ferreira, vulgo Abel Ferreira. Naquele momento, o português saia do Paok, da Grécia, ainda pouco talhado e sem taças no currículo, para comandar um vulcão verde.
No inicio, a missão do recém contratado era colocar o clube nos trilhos, expurgando a instabilidade anterior, quando Vanderlei Luxemburgo abrigava a casamata. Dispondo de jogadores experientes e jovens revelações, a tarefa foi alcançada, com o time obtendo bons resultados.
Rapidamente, as primeiras conquistas
Poucos esperavam que, efemeramente, o Alviverde alcançasse os títulos da Libertadores e Copa do Brasil daquele jeito. Graças ao portuga, eles vieram
Consolidando sua principal arma, o contra-ataque, o Palmeiras amassou seus adversários na competição continental, até chegar nas semis, contra o River Plate. Quiçá, nem o palmeirense mais otimista imaginava um 3 a 0, com sobras e imposição, fora de casa, na Argentina. Além do mais, aquela partida consolidou Gabriel Menino, Danilo e Patrick de Paula, os “três porquinhos” da base. O jogo da volta foi um sufoco danado, porém a classificação à final veio.
Antes de mais nada, Abel Ferreira pensou nas maneiras de parar o ímpeto do Santos, que tinha como ofensividade a dupla Soteldo e Marinho. Depois, o gol. Certamente, os sommeliers quiseram morder as costas, classificando a decisão como “feia”. Todavia, os dois clubes se estudaram nos mínimos detalhes, onde um buscava anular o outro. Mas um Breno Lopes, após belo cruzamento de Rony, cabeceou, dentro da área, aos 98 minutos e 28 segundos, marcando o gol do título. O dia 30 de janeiro de 2021, no Maracanã, tornava-se a data da primeira conquista do português.
Na Copa do Brasil, o caminho não teve tantas pedras – até o desfecho, o Palmeiras impôs seu favoritismo. Na final, o Grêmio, do Renato Gaúcho, entrou na ciranda lusitana. Eficaz, efetivo e cirúrgico, os paulistas ganharam os dois jogos da decisão, ao estilo do técnico: explorando os contragolpes e evitando exposições do setor defensivo, sendo 1 a 0 em Porto Alegre, e 2 a 0 no Allianz Parque. Então, o homem que saiu da Grécia, obtinha seu segundo título.
Rapidamente, também, as primeiras pancadas
Abrindo a nova temporada, o Palmeiras foi disputar a Supercopa do Brasil e a Recopa Sul-Americana, contra Flamengo e Defensa y Justicia, respectivamente.
Na Supercopa, o Verdão mostrou um excelente futebol. Findada a peleja em 2 a 2, os pênaltis, mais uma vez, castigaram a ineficiência dos jogadores, com 3 cobranças desperdiçadas que impediram a conquista do título. Anteriormente, o Mundial de Clubes, na decisão do 3° lugar, traria à tona essa pedra no sapato.
Da mesma forma, a Recopa flagelaria a má pontaria Alviverde. Saindo vencedor do primeiro jogo, por 2 a 1, o clube brasileiro não soube aproveitar a vantagem, perdendo o segundo duelo, de virada, por 2 a 1. Como consequência, pênaltis. Tal qual um pesadelo repetido, outra vez o Palmeiras era derrotado na marca da cal. Em 3 dias, o clube perderia 2 títulos, emergindo as primeiras criticas ao comandante.
O Estadual foi visto como teste. Mesmo assim, chegou à final, contra o São Paulo. O desempenho do Palmeiras, nos dois jogos da decisão, foi extremamente questionável. Abel fez escolhas erradas que, de certo modo, contribuíram para a derrota por 2 a 0, tirando o Tricolor do jejum de 9 anos sem títulos. Contudo, o pior ainda estava por vir.
Atual campeão da Copa do Brasil, o CRB seria o adversário dos detentores da taça, na 3° fase. Na ida, em Alagoas, vitória, 1 a 0. Mesmo sufocado, os alagoanos, bravamente, conseguiram vencer, no Allianz Parque, repetindo o placar do primeiro jogo e forçando as penalidades. De novo, derrota do lado verde. Era a 4° disputa de pênaltis perdida pelos paulistas, em 2021. Dessa vez, um agravante: o rival estava na segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Consolidado o vexame, o lusitano teve que ouvir demasiadas criticas, tanto de torcedores – as famosas pichações – como de jornalistas.
Uma nova fase de Abel Ferreira
Tendo aprendido com o erros e contando com o respaldo omisso da diretoria, o técnico manteve-se no cargo.
Provando sua competência aos céticos, recebeu a alcunha de “reclamão”, “chato” e “retranqueiro”. Em todas as transmissões, seja pela falta do que falar ou pela extrema vontade de achar chifre em cabeça de cavalo, suas atitudes são captadas, numa espécie de reality show.
Enquanto os cachorros ladram, a história está sendo traçada. Abel Ferreira, na Libertadores, em pouco tempo, coleciona feitos:
- Colaborou com a maior sequencia invicta de um time como visitante;
- eliminou, pela primeira vez na história, o São Paulo do torneio e, de quebra, angariou sua primeira vitória contra o rival, num acachapante 3 a 0;
- Após Felipão, é o único técnico do Palmeiras a chegar em duas finais consecutivas.
Concentrado na final do dia 27 de novembro, contra o Flamengo, usa o Brasileirão como laboratório. Perceptivelmente, rodada a rodada, testa novas maneiras de atuar. Embora as oscilações tenham sido frequentes no Nacional, fixou o time no pelotão de cima da tabela, entre os líderes.
Enfim, ele é o pai que, na busca pela glória, atravessou o Atlântico, formando uma nova família. Longe de ser “supremacista”, seu legado já está arraigado em terras brasileiras. Conforme alfineta as marquises arcaicas do nosso futebol, torna-se inimigo da imprensa corporativista. Inegavelmente, possui um gênio irrequieto. Este é Abel, senhoras e senhores.