Em entrevista ao NETFLU, Diogo Riccobene, líder da Bravo 52, organizada do Fluminense, destacou que, a partir da próxima rodada, a torcida não usará mais o termo “mulambo imundo”, na canção “Desde pequeno te sigo”.
Nós como torcida temos sim que ter um papel social também, lutar por causas que mereçam ser, de certa forma, um grito de apoio. […] Mas lutaremos para que o torcedor tricolor entenda o verdadeiro significado da palavra “mulambo” e se envergonhe de dizer e cantar esse termo – enfatizou Diogo.
A palavra, proferida várias vezes em tom pejorativo ao Flamengo, tem, como origem, a Angola, país africano. De lá, vieram muitos escravos que, ao chegarem no Brasil, usavam roupas gastas, sujas. Logo, diante dessa situação, os Senhores de Engenho passaram a denominar por “mulambo” o cativo que portasse tais vestimentas.
Para bom entendedor, meia relação basta. Inegavelmente, há uma conotação racista no referido vocábulo. No entanto, a música era vista apenas como uma mera provocação aos Rubro-Negros. Isso favoreceu sua banalização nas arquibancadas brasileiras, onde permeou-se o mito do “tá tudo liberado”.
A ofensa restringe a liberdade
Tal debate, quando levado a cabo por pessoas que detêm algum tipo de liderança, tende a agregar para a comunidade. Além do mais, pressiona clubes e federações a não deixarem passar incólume questões importantes, pois, no futebol, velhos estigmas ainda resistem.
Embora sejam vistos como um local de liberdade, do povo, os estádios restringem parcelas da população. Se, de forma gradual, o racismo passou a ser combatido e denunciado por todos, a homofobia persiste, em qualquer cancha do país. Frequentemente, o grito de “bicha” sai da boca de algum torcedor, seja ele marmanjo ou criança. Não importa qual ofensa seja proferida: “viado”, “gay” ou “baitola”, fazem desmantelar a frágil honra do rival. Decerto, nesse ambiente, o público LGBTQIA+ não se sente aceito.
Contudo, quando Germán Cano, atuando pelo Vasco da Gama, clube de massa, empunha a bandeira de escanteio, com as cores do arco-íris, numa comemoração de gol, ali está um sinal de respiro. Certamente, aquele ato sincero, explicito, também, na faixa transversal da camisa, valeu mais do que fúteis palavras e posts automáticos. Afinal de contas, abraçar a causa é demonstrar apoio e dizer que, sim, estamos com vocês.
Saudosismo, em excesso, faz mal
Em primeiro lugar, não há maleficio algum em relembrar do passado. Dos craques, partidas inesquecíveis, as festas, permeiam a memória dos mais velhos. Enfim, as coisas boas.
Mas, usar o saudosismo como justificativa para preconceito, é canalhice. Pouco importa se, no seu tempo, as pessoas chamavam os outros de “neguinho”, “bicha”, “vadia”, e ficava tudo ok. Atualmente, a piada do palhaço decrépito, que reclama da “lacração”, não surte o mesmo efeito. Isso ocorre graças aos amplos debates levados à tona, pelos setores da sociedade que mais sofreram – e ainda sofrem – com essas pseudobrincadeiras.
Portanto, os intransigentes devem aceitar as mudanças ocorridas com o tempo. E, não, o futebol não ficará mais chato sem o ódio gratuito, pois “liberdade de ofensa” está longe de ser liberdade de expressão.