Um anúncio (in)esperado. A contratação de Fernando Diniz como técnico do Brasil tem um caráter bastante dúbio. Por um lado, ela dá fim a expectativa que existia em relação a qual seria o nome a comandar a Seleção Brasileira até a provável chegada de Carlo Ancelotti, daí seria o “esperado”. Mas por outro ponto de vista, causou espanto em quase todo mundo a forma como o contrato foi acertado, com Fernando Diniz acumulando as funções de técnico do Brasil e do Fluminense, por isso o “inesperado”
No entanto, até chegarmos a conclusão do contrato e o anúncio oficial feito na última quarta-feira, houve um longo caminho de negociações e prorrogações do prazo colocado pela CBF. Portanto, esse texto é uma linha do tempo para relembrarmos tudo o que aconteceu desde a saída de Tite do cargo de técnico da Seleção Brasileira.
09/12/2022
Neste dia, o Brasil era eliminado na Copa do Mundo de 2022 para a Croácia nos pênaltis. No instante em que acabou a partida, Tite – como já havia anunciado antes – deixava de ser técnico do Brasil. É verdade que, legalmente falando, o contrato dele se encerrou apenas no dia 17 de janeiro – quando assinou a recisão, mas isso foi mera formalidade. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, já tinha conhecimento da decisão de Tite e sua comissão bem antes disso.
Com a eliminação do Brasil na Copa do Mundo, os rumores em relação ao sucessor de Tite na seleção aumentaram. Com isso, a CBF soltou uma nota oficial dizendo que a decisão seria anunciada em janeiro de 2023.
Primeiro adiamento – janeiro de 2023
Chegou então janeiro de 2023, Tite e sua comissão técnica assinaram a recisão do contrato e nada havia sido resolvido em relação a quem assumiria. Ednaldo Rodrigues então adia o prazo do anúncio para março, antes da data FIFA. A prorrogação para março surgiu com o objetivo de não ter um técnico interino iniciando o ciclo para a Copa de 2026.
Mas não foi o que aconteceu. A CBF não conseguiu acertar a contratação de um nome e Ramon Menezes – técnico do Sub-20, foi remanejado para comandar o time principal no amistoso contra Marrocos. O Brasil perdeu para Marrocos, por 2 a 1.
Início da novela Carlo Ancelotti – 25 de abril de 2023
Desde que se tornou pública a saída de Tite após a Copa do Catar, um nome se tornou unanimidade para ser o alvo da CBF, era Carlo Ancelotti. O treinador italiano tem um currículo louvável e dispensa apresentações. Mas além da sua carreira brilhante, o fato de Ancelotti ter trabalhado com muitos brasileiros e ter tido boa relação com grande parte deles, se tornou fator preponderante para o italiano ser o plano A de Ednaldo Rodrigues.
Nesse sentido, Ednaldo nunca poupou elogios ao treinador e deixou claro que era seu objetivo principal. No dia 25 de abril, o presidente se posicionou de maneira firme sobre a possível chegada de Ancelotti, dizendo que esperaria, no máximo, até 25 de maio. O prazo era por conta dos compromissos que o treinador teria com o Real Madrid na reta final da temporada.
Além disso, nessa mesma fala, Ednaldo já sinalizava sobre a possibilidade de negociar um plano B, caso a situação não se concretizasse até o dia 25 de maio.
“Antes de partir para um plano B, quero esgotar todas as possibilidades do plano A. Temos um compromisso com a sociedade e temos que ouvir os clamores.” – disse o presidente
Adiamento por conta Champions – 5 de maio de 2023
Terceiro adiamento. Por volta de dez dias após o pronuciamento de que iria esperar até o final de maio, o presidente Ednaldo deu entrevista ao canal “Bein Sports” esticando um pouco mais a corda. Na entrevista, Ednaldo disse que a prorrogação do prazo seria até a data da final da Champios League, 10 de junho.
No entanto, o Real Madrid acabou não chegando até a grande final, sendo eliminado para o Manchester City na semi.
Além de falar sobre o adiamento, o presidente da CBF ainda revelou que, aquela altura, ainda não havia sido feita nenhum tipo de proposta por Carlo Ancelotti.
Início da data FIFA – 12 de junho de 2023
A temporada europeia chegou ao fim e as informações de bastidores que surgiram, eram de que as conversas entre CBF e Ancelotti haviam se intensificado durante viagem a Europa para a Data FIFA.
As notícias que surgiram eram de que Ancelotti se animou com o projeto de treinar a Seleção Brasileira, pensando na Copa de 2026 como uma “última dança” da sua carreira. No entanto, a negociação ainda não havia evoluído para temas relevantes como bases salariais, logística, membros de comissão técnica, entre outros tópicos.
Em entrevista durante a data FIFA, Ednaldo disse que iria conversar com os jogadores da seleção para saber a opinião deles em relação ao nome a ser escolhido para assumir o cargo de técnico. Além disso, prometeu até o dia 30 de junho para esclarecer de vez a situação.
Na realidade, eu entendo que como até dia 30 temos a possibilidade de esse plano A e tudo o que tiver em relação a essas outras hipóteses, eu pretendo falar depois disso, porque tenho que ouvir nossos pares de diretoria. Também vou aproveitar esses jogos, aqui e em Portugal, para trocar ideia com os atletas, pois eles fazem parte de todo esse trabalho que a CBF desenvolve. A gente sempre busca ouvir todos eles dentro de uma relação bem aberta, para que eles possam opinar. – afirmou Ednaldo Rodrigues
Silêncio da CBF – 30 de junho de 2023
Mais uma vez, chegou o prazo estipulado pela CBF e o silêncio prevaleceu. A essa altura, as informações que se tinham por parte da entidade, eram de que Ancelotti já havia firmado compromisso de comandar a Seleção Brasileira. Entretanto, o italiano quer cumprir seu contrato com o Real Madrid, ou seja, só poderia assumir o cargo no Brasil, em junho de 2024.
A questão que surgiu é se vale ou não esperar por Ancelotti, principalmente por se tratar de um acordo apenas verbal. De acordo com a lei, Carlo só pode assinar um novo documento em janeiro de 2024, quando faltarem 6 meses para o término do contrato com o clube espanhol.
Nesse sentido, a CBF entendeu que vale a pena esperar e iniciou a busca por um técnico “interino” que assumiria o cargo até a chegada do italiano, em junho de 2024. Esse nome seria responsável pela transição para o comando de Ancelotti.
Diniz é anunciado como técnico da Seleção – 04 de julho de 2023
No último dia 04, Fernando Diniz era anunciado como técnico do Brasil, com contrato de 1 ano. Sob a perspectiva do acerto com Ancelotti encaminhado e os maus resultados apresentados nos primeiros amistosos pós Copa, a CBF viu a necessidade de acelerar as conversas por um nome interino. O nome de Fernando Diniz sempre foi bem visto nos bastidores da entidade, principalmente pelo seu estilo de jogo. Mas a falta de grandes conquistas em sua carreira, era visto como ponto negativo relevante para a especulação em torno do nome.
Além do técnico do tricolor carioca, nomes como Abel Ferreira, Jorge Jesus, Dorival Júnior e o próprio Ramon Menezes eram ventilados como possíveis nomes para essa transição. No entanto, a preferência se deu por Diniz em um acordo curioso estabelecido entre CBF e Fluminense.
O acordo prevê que Fernando Diniz e mais três auxiliares irão acumular suas funções tanto na Seleção, quanto no clube carioca. Diniz teria um papel “quase igual” ao dos atletas convocados, se apresentaria apenas na data FIFA e no restante do ano, honraria seus compromissos com o Fluminense.
A decisão gerou uma série de questionamentos sobre a forma como tudo será conduzido. Como serão as convocações? Ele terá tempo para avaliar os jogadores? Ancelotti terá algum influência no trabalho? Diniz terá algum contato com Ancelotti? Essas são perguntas que na coletiva de apresentação, a CBF e Diniz se esquivaram de responder, então só o tempo irá dizer. A qualidade do futebol praticado pelos times de Fernando Diniz, é praticamente indiscutível. No entanto, a maneira como ele lidará com o acúmulo de funções, ainda é um enorme ponto de interrogação para todos.
Para Fernando Diniz, fica a sensação se não seria “queimar largada” ao assumir um cargo tão importante, com tão pouco tempo de trabalhos no alto nível do futebol brasileiro. Para o Fluminense, a expectativa de como o treinador irá conciliar os dois trabalhos. Já para a CBF é uma jogada bastante arriscada. A entidade está colocando em cheque todo um planejamento de ciclo, em torno de uma possível chegada de Ancelotti para a Copa de 2026.
Nesse momento, é importante salientar que todas as informações sobre o tema “Ancelotti na seleção” vieram de dentro da CBF. Até a hora em que esse texto foi produzido, tanto Ancelotti, quanto Real Madrid – com quem o italiano tem contrato até junho de 2024 – não fizeram nenhum pronunciamento sobre o assunto.
Mas o que se tem certeza, é de que em um ciclo onde o Brasil chegará ao recorde de 24 anos sem levantar um título mundial, a condução da CBF para achar um novo técnico foi, no mínimo, temerária. A ver as cenas dos próximos capítulos.