Neymar, um ídolo em exercício

Foto: Reuters

Em meio a pandemia de Covid-19, que já matou de 191 mil pessoas no Brasil, o jogador Neymar, do PSG, prepara uma festa de Réveillon em sua propriedade particular, na cidade Marangatiba-RJ. Cerca de 150 convidados são esperados. De acordo com o portal UOL, a Agência Fábrica produtora do evento, garantiu todas as medidas de distanciamento impostas pelos órgão de saúde.

Partindo do pressuposto de que fazer com que 150 pessoas cumpram as normas sanitárias, em uma festa de luxo regada a música e álcool, seja uma missão impossível, constata-se que o “adulto Ney” ainda tem lapsos de menino. Com 144 milhões de seguidores no Instagram, 50,9 milhões no Twitter e a presença em comerciais e televisão, Neymar é visto por muita gente, suas atitudes, para o mal e o bem, são amplamente repercutidas. Por isso, é preciso ser um exemplo positivo, assim como é na luta contra o racismo, por exemplo.

Ao promover grandes aglomerações, enquanto leitos de UTIs se esgotam, pessoas morrem e não podem sequer ter uma cerimônia de despedida, e o país sofre pela irresponsabilidade de um governo incapaz de confiar na ciência, Neymar se demonstra irresponsável e indiferente com as necessidades de tantos de seus fãs e as mazelas do seu povo. Relativiza uma pandemia, coloca seus próprios convidados em risco e por ser uma pessoa pública, legitima atitudes assim. Obviamente o jogador não é o único que descumpre as normas de combate ao coronavírus, mas é ele que faz parte de uma casta de privilegiados que pode optar por não se aglomerar, mas, mesmo assim se aglomera, porque é alheia aos problemas da sociedade.

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O isolamento social acabou. Para você, para mim, para todo mundo. O confinamento nos dois, três primeiros meses não existe mais. Afinal, não tinha como ficar trancado em casa até dezembro. Nós voltamos a trabalhar presencialmente, muitos voltaram para a academia e a correr nos parques, ir ao mercado com mais frequência, comprar presentes e, também, se divertir. Mas isso não significa se reunir com 30, 40, 150 pessoas. É sair com dois ou três amigos ou ir na casa de alguém beber uma cerveja em 10 pessoas. É viver, mas com cuidados, e mesmo assim, colocamos em risco quem está ao nosso redor. O prejuízo de se infectar não é individual, por isso, a festa de Neymar não é um problema só dele, mas de seus convidados, dos trabalhadores que estarão no eventos e de seus familiares.

A qualidade do atleta Neymar é indiscutível. Por isso, multidões o chamam de ídolo. Mas será que ele é? O Brasil, historicamente, sofre uma crise ídolos, não possui e talvez nunca tenha tido alguém com a representatividade de Maradona para a Argentina, por exemplo. Pelé? Nem pensar. Ayrton Senna? Talvez, mas já faz 26 anos que não o temos. A carência por alguém que nos represente, de fato, acaba fazendo com que elejamos pessoas, jogadores, presidentes, ídolos em exercício. Neymar é um ídolo em exercício, ou seja, não é, mas é tratado como tal porque não temos outros e precisamos de um, e assim será até aparecer outro.

Este texto não tem a intenção- e seria completamente equivocado se tivesse- de desqualificar Neymar. Mas tecer uma opinião crítica de como sua representatividade poderia ter sido utilizada de forma responsável, para conscientizar a população em se reunir com poucas pessoas nesta virada de ano, para que a passagem para 2022 seja como nos acostumamos a comemorar desde sempre. Podendo ser exemplo, Neymar assume o papel de ídolo em exercício, porque nega um perigo eminente, se une à ignorância de grande de parcela de um país no fim da fila para vacinação, com cidadãos de bem que bradam ser antivacina. É triste, que Neymar, um homem, pai, de 28 anos, insistir nos dizer, por meio de suas atitudes, que prefere ser menino.

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