No último dia 23 de dezembro, antevéspera de Natal, a Portuguesa de Desportos conquistou o título da Copa Paulista – torneio criado para garantir calendário os clubes do estado que não disputam competições nacionais no segundo semestre. A glória inédita veio diante do Marília (um dia frequentador da Série B), após vencer os dois jogos: por 2 a 1, no Estádio Bento de Abreu, e por 3 a 2, no Canindé. A taça dá o direito ao campeão escolher se vai disputar a Série D ou a Copa do Brasil, no ano seguinte (o vice-campeão fica com a vaga que restar). A Lusa deve disputar a quarta divisão, mas o certo é que, independentemente da escolha, a associação vai retornar às competições nacionais depois de quatro anos sem jogar partidas oficiais, fora do estado de São Paulo.
Para entender o significado desse feito, precisamos olhar para trás e resgatar os principais momentos, bons e ruins, do clube de origens lusitanas. Fundada em 14 de agosto de 1920, a Portuguesa tornou-se uma grande força no estado de São Paulo, sobretudo a partir da conquista dos campeonatos paulistas de 1935 e 36. Nos anos 1950, a Lusa foi bicampeã do então tradicional Torneio Rio-São Paulo e, em 1973, conquistou o estado pela terceira vez. Na era moderna do campeonato brasileiro, a partir de 1971, a Portuguesa frequentou a elite até 2002, com destaque para o 1996, quando foi vice-campeã brasileira, perdendo o título para o Grêmio, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre.
O século XXI foi altos e baixos para a Lusa. De 2002 a 2007 na Série B, o clube não conseguia mais fazer frente ao Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo. Inclusive, em 2006, a Portuguesa sofreu o primeiro rebaixamento para a Série A2 do Paulistão, em 86 anos de história. Em 2008, o clube lusitano conseguiu se reabilitar: voltou para a elite do futebol nacional e paulista. Mas não resistiu ao primeiro Brasileirão de pontos corridos que disputou e foi novamente rebaixada.
Depois de dois anos batendo na trave, terminando na 5ª colocação, a Portuguesa teve seu apogeu neste século, em 2011. Apelidada de “Barcelusa”, em alusão ao Barcelona treinado por Pep Guardiola que encantava o mundo naquele início de décadas, a Portuguesa conquistou o título do Brasileirão da Série B, e consequentemente o acesso à Série A, com incríveis 23 vitórias, 13 empates e apenas 3 derrotas, em 38 jogos, sem falar dos 82 gols marcados – melhor ataque da história da segundona. Motivada pelo título e com a manutenção do time campeão, em 2012, a Lusa decepcionou: não se classificou para às quartas de final do Paulistão e acabou em 15º, na elite do futebol brasileiro.
No entanto, o início do declínio, jamais antes visto no clube rubro-verde, estava para acontecer em 2013. A duras penas, a Portuguesa conseguiu se manter na elite estadual e terminou em 12º, na Série A. Porém, uma denúncia protocolada no STJD por uma escalação irregular do meia Héverton, no empate em 0 a 0 com o Grêmio, no Canindé, pela última rodada daquele campeonato, fez com que a Portuguesa fosse punida com a perda de quatro pontos, caindo para 17ª colocação, salvando o Fluminense do rebaixamento e indo no lugar do clube carioca.
A queda para a Série B fez com que o clube mergulhasse uma crise técnica, institucional e financeira. Com direito a derrota por W.O, a Portuguesa foi rebaixada para Série C nacional, em 2014, para a Série A2 do Paulistão, em 2015 (de onde nunca mais voltou) e para a Série D, em 2016. Na quarta divisão, a Lusa foi lanterna em um grupo com Bangu-RJ, Desportiva-ES e Vila Nova-MG. Nos anos seguintes, o clube rubro-verde acumulou campanhas decepcionantes na Série A2, chegando a correr risco de cair para a terceira divisão estadual. Neste período, o clube ficou até quatro meses sem futebol profissional e quase perdeu o mítico Estádio Canindé.
Até que no desafiador 2020, a Portuguesa deu um suspiro vital para sua sobrevivência e determinante para sua reconstrução. O título da Copa Paulista evidenciou a retomada no planejamento. A classificação para a Série D enche de esperança os torcedores lusitanos e, também, os brasileiros que tem afeto pelo clube e sabem que a Portuguesa precisar voltar a desbravar oceanos em que tanto navegou um dia.