Historicamente, a figura do 9 clássico esteve presente no futebol e dominou a posição. Nos anos 90, os centroavantes se relacionavam mais com o último toque do que com o jogo.
Entretanto, o futebol passou por uma grande evolução nas últimas duas décadas e as equipes passaram a necessitar de uma participação mais constante de seus centroavantes em zonas mais recuadas.
No futebol atual, o gol segue sendo o evento mais importante de uma partida, todavia, salvo raras exceções, centroavantes que não participam e buscam oferecer soluções aos times fora da área têm perdido espaço.
Neste cenário, é inevitável não pensar em Pedro, um dos melhores centroavantes do continente. O jogador de 23 anos reúne em seu jogo características de um camisa 9 mais clássico e também de um centroavante moderno.
Por se tratar de um jogador que precisa de poucas chances para marcar e pela quantidade de fundamentos que possui para finalizar, Pedro, dentro da área, fala a mesma língua dos homens de área dos anos 90.
Em zonas mais recuadas, devido à qualidade técnica que tem para solucionar jogadas e se associar com os companheiros, o jogador formado nas categorias de base do Fluminense é um centroavante poliglota e joga de acordo com as necessidades do futebol contemporâneo.
Pelo tricolor carioca, Pedro estreou em 2016, mas só veio a ter uma sequência considerável de jogos em 2018. Durante o período, além dos 31 gols marcados em 91 jogos, o centroavante teve atuações espetaculares que o credenciaram como um dos jogadores mais promissores do país, despertou o interesse de clubes europeus e lhe rendeu uma convocação para a seleção principal.
No entanto, pela grave lesão sofrida no joelho – ficou 8 meses parado, Pedro teve sua sequência interrompida e o interesse de grandes projetos europeus esfriou – a participação discreta no Torneio de Toulon também influenciou. No fim de 2019, foi negociado com a Fiorentina.
Entretanto, sua passagem pela Itália foi curta: disputou apenas 4 jogos (totalizando 59 minutos em campo) e não balançou as redes. No início de 2020, Pedro foi negociado – empréstimo de um ano – com o Flamengo e pôde, enfim, realizar o sonho de jogar profissionalmente pelo seu clube de coração.
Pelo atual campeão da Libertadores, ainda com Jorge Jesus, foi reserva no Carioca e não teve os minutos desejados. Todavia, com Domènec Torrent vem ganhando mais chances e protagonismo como titular. Pedro se aproveitou dos rodízios promovidos pelo treinador espanhol e da ausência de opções para o ataque para emendar uma sequência e voltar ao nível de outrora.
Até aqui, em 29 jogos – titular em 15, marcou 16 gols. Em média, o centroavante balança as redes a cada 87 minutos (ao todo, disputou 1398) em campo pela equipe rubro-negra. Nas últimas 11 partidas que iniciou, fez 12 gols.
Graças à sua capacidade para jogar de costas para o gol e sua letalidade dentro da área, oferece uma variedade maior de mecanismos para o Flamengo sair jogando, preparar as jogadas e finalizar as mesmas.
Na saída de bola, quando o adversário sobe a marcação para condicionar os primeiros passes do clube rubro-negro, Pedro torna-se um alvo constante para as ligações diretas dos zagueiros ou do goleiro. Devido à sua altura (1,87) e ao seu controle de bola e por sua capacidade de protege-la, o centroavante consegue recepcionar o passe longo e estabelecer a equipe no campo de ataque.
Com o time já instalado em campo rival, na 2º fase de construção, por ser uma constante ameaça à meta rival e por sua capacidade associativa, é capaz de fixar os zagueiros, gerar espaços para os outros jogadores e deixar apoios entre as linhas após receber o passe vertical, sempre deixando o companheiro mais próximo de frente e em vantagem tática acionando o lado contrário com suas viradas de jogo.
No momento da definição das jogadas, além de estar sempre bem posicionado, sobram recursos para Pedro: finalizações de cabeça, de primeira, perna direita e perna esquerda. Tudo isso com uma eficiência impressionante: pelo Campeonato Brasileiro e pela Libertadores, 43% dos seus chutes (23) terminam em gols (10).
Neste sentido, por Gabigol se destacar, sobretudo, por sua capacidade goleadora, a comparação entre ambos é inevitável. No entanto, é necessário ressaltar que Pedro e o ex-jogador do Santos possuem características totalmente diferentes e complementares – enquanto um deixa a referência para participar da construção e atrai um adversário, o outro ataca o espaço gerado.
Em um calendário tão apertado (lesões, suspensões e possíveis convocações) como o do futebol brasileiro, o Flamengo se beneficia por ter dois dos melhores atacantes da América do Sul em seu elenco.