O assunto que tomou conta das manchetes futebolísticas na última quinta-feira (15) foi claro: o episódio de racismo contra o atacante Vinícius Júnior. Racismo esse que partiu de um ataque à um dos pontos que constituem a essência não só de Vinícius, mas de vários atletas brasileiros:” a irreverência.
Recapitulando o assunto, Pedro Bravo, presidente da Associação Espanhola de Empresários de Jogadores disse o seguinte: “Você tem que respeitar o rival. Se quer dançar, que vá ao sambódromo no Brasil. Aqui o que você tem que fazer é respeitar os companheiros de profissão e deixar de bancar o macaco”.
A fala de Pedro Bravo fala por si. A intenção desse texto não é entrar no mérito do quanto a fala de Bravo foi repugnante pelo simples fato de ser racista. Acredito que todos tenham observado isso. Pretende-se aqui discutir outros aspectos.
O primeiro ponto é a incoerência absurda. Pedro Bravo fala que “tem que respeitar o rival”, dizendo que o ato de Vinícius Júnior comemorar seus gols dançando é um desrespeito. E cometer uma ofensa racista é o quê? Qualquer pessoa sabe que racismo é algo mil vezes pior do que uma simples dancinha.
O senso de proporções do senhor Pedro Bravo é igual a zero. Um dia desses ouvi que as pessoas hoje estão mais preocupadas em sinalizar virtudes do que vivê-las. Em casos assim, temos um grande exemplo prático disso. O homem que começou enfatizando a necessidade de respeito pelo time rival terminou a frase com uma ofensa racista.
Vinícius é mais um jogador que carrega o DNA do atacante brasileiro. O jeito brincalhão, alegre, divertido e provocador está longe de ser restrito ao atleta do Real Madrid. Daria pra fazer um filme só de danças, firulas, dribles e provocações de jogadores brasileiros por aí. Faz parte da nossa brasilidade, por assim dizer, dentro das quatro linhas.
Querer apagar esse lado do jogador brasileiro é atacar a sua essência, aquilo que sempre foi um diferencial nosso. As pedaladas de Robinho, os dribles desconcertantes de Garrincha e Neymar, a magia de Ronaldinho e a categoria de Ronaldo Fenômeno são o tempero único do futebol brasileiro. Isso pra não falar do estilo provocador de nomes como Romário, Edmundo e Renato Gaúcho.
Se eu pudesse dizer algo a Vinícius Júnior, além de lhe dar forças pra encarar o racismo de cabeça erguida, seria a seguinte: Continue sendo você mesmo, Vini! Esse garoto alegre, brincalhão, acostumado a ir pra cima não só dos marcadores, mas das dificuldades da vida também, sem baixar a cabeça. E é assim que tem que ser. Não se curve diante diante quem quer te intimidar, ou de sinalizadores de virtude, muitos menos de racistas. Siga firme, driblando e dançando na cara da inveja, da hipocrisia e do preconceito.