Marrento e goleador, tudo na mesma proporção. Cairia como uma luva, na última década do século passado. Porém, estamos em 2021, no auge – novamente – da pandemia.
O que ocorreu com o Gabriel Barbosa, vulgo Gabigol, não é algo restrito ao atleta rubro-negro. Olhando mais a fundo (nem tanto), trata-se de um reflexo da sociedade, embebida no ceticismo e mortalmente rebelde, pois, em atos como o do jogador, vidas são colocadas em risco.
Ao que parece, Gabigol não tomou conhecimento do que representa para o futebol brasileiro. Das crianças, maravilhadas com seus tentos, aos marmanjos, todos, sem exceção, repetem sua comemoração, rito universal da torcida flamenguista, quando a bola estufa a rede.
Ídolos são falhos, cometem deslizes e estão longe de serem paladinos das boas maneiras. De Cruyff a Sócrates. Agora, ser alheio, perante a hecatombe que ocorre à nossa volta, é uma escolha opcional. Estúpida, sim, mas a cargo de qualquer um. Ao aglomerar, ilegalmente, num cassino, Gabriel seguiu pela via da indiferença.
O Flamengo, por sua vez, ao não aplicar uma punição exemplar, eleva o atleta ao status de “intocável”. A figura do ser humano, enquanto cidadão, é sobrepujada pela imagem do artilheiro, assumindo a feição de divindade ingênua e pura, acima da equidade constitucional. As desculpas – esfarrapadas, convenhamos -, em entrevista para o Eric Faria, serviram de álibi, aos olhos da diretoria do clube. Sem reprimendas. Somente o silêncio.
Faltou tudo: sensibilidade, exemplo, consciência… No futuro, certamente, recordarão do que passamos e sobrevivemos. Para o bem ou para o mal, o jogador será lembrado, da maneira mais tragicômica possível, ilustrando as atitudes corriqueiras, em meio ao desespero hodierno.