O atacante Memphis Depay reafirma sua intenção de continuar no Corinthians, mas cobra mudanças. Após a derrota por 2 a 0 para o Fluminense, nesta quarta-feira (17), na Neo Química Arena, o camisa 10 holandês fala com franqueza sobre o momento do clube. Em entrevista na zona mista, logo após o apito final, o jogador diz que quer renovar o contrato, mas também critica o trabalho da comissão técnica e pede reforços experientes. A declaração chama atenção não apenas pelo tom, mas pelo timing: o Corinthians soma apenas uma vitória nos últimos seis jogos e começa a ver a pressão crescer.
Depay não apenas se mostra disposto a seguir no Parque São Jorge como também manifesta carinho pelo clube e pela experiência no Brasil. Mas o discurso afável logo dá espaço a ponderações incisivas. O camisa 10 expõe, com todas as letras, a necessidade de o Corinthians se mexer. Segundo ele, a equipe precisa de mais estrutura, maturidade e jogadores experientes para sustentar um projeto realmente competitivo.
“Tenho mais um ano no Corinthians até a Copa do Mundo. Amo estar aqui, gostaria de estender o contrato, mas também há coisas que precisam ser ditas”, dispara Memphis, logo nos primeiros segundos da entrevista. A frase abre uma série de afirmações sinceras — e duras — sobre a estrutura da equipe e o planejamento do clube para a temporada. “Precisamos trazer mais força ao time, espero que o Corinthians foque nisso. Espero que o Corinthians traga mais jogadores experientes para ensinar aos jogadores mais novos”, acrescenta.
Com contrato até 20 de junho de 2026, Memphis já iniciou conversas iniciais com a diretoria corintiana para discutir uma possível ampliação do vínculo. Há vontade mútua de continuar a parceria. O problema, agora, não está no salário nem nos prazos. Está no campo.
Críticas ao estilo de jogo e ao comando técnico

O desempenho da equipe desde a conquista do Campeonato Paulista preocupa o atacante. A oscilação é visível. Desde a vitória no estadual, o Corinthians venceu apenas uma partida — contra o Vasco, por 3 a 0, no Brasileirão.
“Algumas vezes, ganhamos de 1 a 0 e sofremos muito no jogo, ficando sem a bola. Precisamos sofrer menos, o time precisa respirar, estamos sofrendo muito. Não temos a bola. Como podemos controlar o jogo? Marcando o segundo gol. Não podemos jogar sempre com a arma na cabeça”, argumenta Memphis, com irritação perceptível no tom.
A declaração é interpretada nos bastidores como um recado direto para Ramón Díaz e seu filho, Emiliano, que comandam o setor técnico do clube. “Algumas vezes, ganhamos de 1 a 0 e sofremos muito no jogo, ficando sem a bola. Precisamos sofrer menos. O time precisa respirar, estamos sofrendo muito. Não temos a bola. Como podemos controlar o jogo? Marcando o segundo gol. Não podemos jogar sempre com a arma na cabeça.”
A crítica atinge o ponto central do debate sobre o Corinthians atual: o estilo de jogo. A equipe, mesmo nas vitórias, apresenta dificuldades em controlar a posse, em criar com consistência e em manter solidez tática. Depay vai além e questiona até mesmo o entusiasmo gerado pelo título estadual.
“Temos que assumir nossa responsabilidade. Se você acha que, por termos vencido o Paulista, somos o melhor time do mundo, a realidade é que não somos. Temos que melhorar”, afirma. Em seguida, faz uma análise dura do comportamento do time em campo: “Se você quer um time que apenas corre e não joga com o cérebro, acho que está escolhendo o time errado. Temos jogadores incríveis, e outros que são trabalhadores, mas precisamos jogar juntos. Neste momento, perdemos muitos jogos por falta de detalhes. Taticamente, estamos abertos, com linhas separadas por 50 metros. Isso não é futebol.”
Pedido por reforços experientes
Outro ponto central da entrevista é o pedido por reforços. “Precisamos trazer mais jogadores experientes para ensinar aos jogadores mais novos”, diz Memphis. A frase toca em uma das maiores fragilidades do elenco atual. A carência de liderança em campo, principalmente no meio-campo, aparece como um dos principais desafios da temporada. A lesão de Garro agrava o problema. O time sofre com a falta de ritmo, criatividade e controle no setor central. Outros nomes, como Carrillo, cumprem papel tático, mas não têm a mesma capacidade de organizar o jogo.
Sem Rodrigo Garro, que segue fora por dores no joelho, Memphis vira um coringa e atua até como lateral. “Quando o Garro joga, recebo mais bolas entre as linhas, ele tem essa qualidade. Às vezes eu me encontro jogando como lateral esquerdo ou meio-campista. Claro que assim fica difícil chegar ao gol com frequência”, explica. “Sou conhecido por ser um jogador perigoso no terço final, mas cada jogo é uma surpresa. Tenho que me adaptar a cada partida. Isso mostra nossa inconsistência.”
A cobrança por reforços já existe nos bastidores, mas agora ganha um porta-voz de peso. Com a janela do meio do ano se aproximando, a diretoria terá que agir rápido. A entrevista de Memphis joga luz sobre uma série de fragilidades que o Corinthians tenta mascarar com discursos otimistas e a lembrança do título estadual. O elenco, mesmo contando com nomes experientes e técnicos como o próprio Depay, ainda não encontra uma identidade clara no Brasileirão. A oscilação vira rotina, e a pontuação baixa reflete isso. Com a derrota para o Fluminense, o time estaciona nos quatro pontos e termina a quarta rodada mais perto da zona de rebaixamento do que do G-6.
Próximos passos
O Corinthians volta a campo no próximo sábado (20), às 16h, contra o Sport, novamente na Neo Química Arena, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro. O jogo marca mais uma chance para o time reencontrar o bom futebol e, ao mesmo tempo, recuperar o apoio da torcida, que saiu em silêncio da Arena após a derrota para o Fluminense.